Costumava me perder sozinha. Gostava mesmo de fazer isso com os pensamentos, visitava lugares desconhecidos sem levar endereço algum, nem telefones para contato caso precisasse. Era uma forma de garantir que se me perdesse nada me atrapalharia a experiência. Desta vez, porém, me perdi acompanhada. Alguém que não se permitia perder nunca, mas que não sabia que estar ao meu lado já significava estar de certa forma perdida...
Pobre amiga... Foi uma grande perdição de fato... dessas que
não tem informação que nos traga de volta ao caminho iniciado...Estávamos muito
bem perdidas...sensação misturada de
riso sarcástico pela raiva do erro
cometido, desvio inaceitável da atenção,
distração culposa, retorno inalcançável, distante...relógio apressado, trânsito lento,
desvios errados, barulho do pensamento que teima buscar a calma e a compreensão
do momento: Algo de pior pode ter sido afastado com nosso erro... Minha mãe dizia
que quando isso acontece... frases de efeito vinham pra nos enganar a consciência
do prejuízo que o atraso certamente nos traria.
Triplicamos o tempo de nossa
viagem e com isso vivemos mais tempo na estrada que nos mostrava como era estar
perdidos assim juntas, partilhando a ansiedade, a culpa, o desconhecido, a
inescrupulosidade, a certeza de que tínhamos que ser generosas conosco na busca
de uma saída que nos mostrasse lugares reconhecíveis de outras jornadas...nos
desse a familiaridade, a sensação de não estar mais assim tão perdidas...
Várias
foram as paradas pra pedir informações...várias foram as informações vazias de
compreensão e acertos, tamanha era nossa perdição...várias vezes acreditávamos
estar no caminho...vários caminhos nos mostraram que não eram eles o que buscávamos...várias vezes nos olhamos em
silêncio...vários silêncios nos fizeram rever nossa distração...
Nos esperavam
as pessoas pra nossa orientação...nos desorientávamos a cada quilômetro da
rodovia que não era a que devia...parecia não ter fim nosso estado de perdidas
assim... vez por outra indagávamos: será que os que nos esperam,
continuam a nos esperar?
Também eles estavam perdidos sem nenhuma bússola
ou mapa pra os guiar... ficavam parados, sem sair do lugar com a esperança de
serem achados por aquelas que perdidas, nem a si mesmas encontravam...
Um velho sábio resolveu ser nosso guia, mas invertemos as posições ele veio atras de nós e se perdeu também...continuamos sozinhas, refazíamos rotas e nos mantínhamos
perdidas...
Ficamos e estamos até hoje procurando nosso caminho, as vezes
avaliamos se já não encontráramos...e então ela me pergunta: Reconhece alguma coisa?
E eu, como costumava
me perder sozinha, estava agora feliz a experimentar sua companhia... Eu respondia
a ela: Não, não estou reconhecendo nada!
Ela então, responsável pela nossa condução, resignada a buscar a calma me dizia... Vamos encontrar... Logo...
Eu só não dizia a ela que eu não tinha pressa...
nem mesmo pelos que me esperavam...pois
não era certeza que eles existiam...assim como não era também verdadeiro
afirmar que estávamos perdidas naquela rodovia ou em outro lugar que não dentro
de nós mesmas...
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