Meu percurso de leitora e escritora começou com Louis Lambert
A estante com portas de vidro, protegia do pó e da luz as preciosas obras de edição italiana, lombada em ouro e capa de couro, no silêncio guardião das letras e frases de personagens e narradores que, emudecidos aguardavam ser despertados para viver de novo na leitura.
Um tesouro precioso que eu aprendi admirar fugidia e aventureira pela imponência que causava e pelo contexto em que me encontrava.
Meu olhar se derramou sobre um pequeno volume que me encantou com suas letras em ouro que soletrei: Honoré de Balzac. Fiquei ali namorando o pequeno livro e sem que eu percebesse, o homem alto e volumoso aproximou-se com seu andar de marcha soldado, que eu já conhecia e respeitava. Chegou até a estante, abriu com uma chavinha a porta de vidro e ordenou-me: Escolha um. Em pânico e excitada como quem se vê próximo do impossível revisado, não tive dúvida fui direto ao pequeno Honoré de Balzac.
Corri para minha casa simples e ausente de livros, letras e frases, imaginários e narradores, repleta de realidade e de personagens de carne e osso, me tranquei no quarto folheando o livro como um tesouro.
Um título me atraiu à leitura: Louis Lambert. Era um conto de Arthur Schopenhauer o filósofo de Dores do Mundo. Tratava sobre um garoto que passou a povoar minha infância e juventude. Aos dezoito encontrei Louis Lambert, um colega de escola, doce melancólico, míope, quase deprimido que passou a ser meu companheiro no trajeto para casa à volta da escola. Eram noites infinitas e estreladas para o qual a distância não existia. Conversávamos sobre letras, frases, personagens e narradores que descobríamos e trazíamos para nossa poesia concreta que tão bem adjetivava nossa amizade. Nos apaixonamos, porém a morte do Louis Lambert de meu amigo, o tirou de mim.
Nos tornamos desde então, letras, frases, personagens e narradores na busca incessante de Louis Lambert.
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