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sábado, 12 de outubro de 2013

Sou eu

Helena sentada diante do teclado da máquina em sua humilde sala de estudos estava mais uma vez a pensar sobre  seus enlaces literários. Amante das palavras e da escrita  Helena fazia parte de uma história de perseguição política durante o holocausto da guerra mundial. Judia professora de canto vivia com a família em Cracóvia na Polônia. Sem  dinheiro sobrevivia dos contos que o jornal local aceitava publicar pelos trocados da única refeição diária. Resolvi fazer Helena pensar. A trouxe para mim nas perguntas que amo fazer sobre personagens ou seres reais.
Vivemos de fato ou somos ideias, ficção de nós mesmos?
Nossa poesia é mero código arrumado pra ter sentidos ao leitor, ou simplesmente sonho, fantasia, desejo de ser um dia...
Escrever eu prometo... Com ou sem Helena... Eu prometo!
É  mais fácil viver  pra realizar uma promessa do que não ter nenhuma pra cumprir? Quem vai cobrar o que escrevi ?Eu mesma?Qual será o compromisso do escritor com as afirmações que faz ? Apoia-se  na liberdade poética? Criativa? Não tem mesmo que pensar sobre os efeitos de sua escrita?No leitor... Nele mesmo o autor?

Permitir o amor liberto de grilhões da paixão na escrita é a mesma coisa que deixar a pipa, ao sabor do vento, estraçalhar-se nas torres, rasgar-se toda nos galhos, incendiar-se no fio elétrico? Ser cinza voando com sobras de eternidade...


Confessar o desejo de perpetuar no amor é mais fácil que juntar nossas coisas e partir sem direção que não a do coração sem juízo... a nos indicar caminhos íngremes intransponíveis pela razão...


Somos fruto de nossa própria ficção... Solitária ou repleta de momentos feitos de inspiração a percorrer cada dia desta vida sem nunca ter certeza se somos real ou se mera e brincante fantasia...Que para Helena começou quando, aos nove anos de idade, se viu diante da imensidão do mar a contemplar a teimosia de uma onda que corria pra dentro dele, se enchia de mais água e mais forças, e se deixava depois voltar para praia se arremessando contra uma pedra gigante que não se movia jamais... Foram horas, dias, anos inteiros reproduzindo tal imagem... Deixo Helena agora... Tornei-me a onda em todos os seus momentos, a pedra, o mar, o lugar... Nunca mais me senti limitada em meus horizontes... Todos os diagnósticos doentios tentaram me explicar à menina a jovem a mulher que fui me tornando... De mar virei rio e até riacho algumas vezes, pedra também tive que ser pra não deslocar-me da vida... Mas permaneço aquela onda que se deixa engolir pelo mar que sou  com meus sonhos, ideias e crenças que içam vela ao vento e me navegam mar afora, adentro, naufragando-me nele, em mim mesma sem Helenas pra fingir que não sou eu.



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