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sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Tudo pode ser

Como sempre que se põe a vaguear pensamentos... não tinha a menor idéia de como as coisas iriam acontecer...saiu do lugar, mudou de lado, trocou de acento...pediu um chá e esperou. Um livro lhe fez falta...seus olhos não tinham o que percorrer...precisava distrair dos últimos acontecimentos, os mesmos que geram a sensação de ser vigiada por meio da sua criação...talvez a denúncia da folclórica frase: Tal mãe tal filha...ou tal filha tal mãe...ou ainda é filha de quem? Na constatação de que, se saiu de mim aquela idéia, é por que sou ela ou uma parte dela...Dai então a nossa conhecida e temida censura que ronda e ameaça a espontaneidade da criação artística literária, plástica, musical...e até mesmo dela própria jeito de falar, de se mover, de olhar, de sorrir...a revelar do que é feita...A obra revela o autor...ou traços de sua identidade! Como então fazer pra guardar os mistérios da criação para que ela perpetue na imaginação e no alimento da alma do leitor? Como desvincular a doentia loucura do autor da beleza de seus versos? Por que manchar a obra com a história funesta de seu criador? Na mesa ao lado uma pessoa curiosa com sua presença tentava cruzar o olhar pra se fazer notada... não facilitou...não queria...afinal o chá estava perfumado...as mãos frias...disseram que a temperatura iria a 4º...ela transpirava sob o casaco pesado...seu único... comprado no brechó próximo da 5ª. avenida em New York nos anos 80...roto e desbotado mas com histórias secretas e dispostas ao imaginário...mais um chá por favor...ficou ali esperando a chuva...o bom livro...a cena de romance desfilando, cheiros, ruídos, tudo num coquetel a depurar os sentidos...e desenhar as coisas que iriam acontecer se continuasse ali...sem saber como aconteceriam...inspirada a escrever...desmedidamente...até esgotar a última letra que se recusa a formar sílaba...a última sílaba enfrentando-a, contrariando-a quanto a composição da palavra. Não tinha a menor idéia do que ia acontecer...continuou seu chá...trouxeram-lhe um livro...um filme...uma viagem a Paris...ou a Praga...quem sabe...talvez lhe traga uma idéia de como as coisas vão acontecer...e então, ai sim, tudo pode ser.

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