a lua se vestia...
a chuva fina e fria, chovia...
Clarice acordou com o toque do seu
celular avisando-a que na noite anterior, ela dissera a ele que queria caminhar
logo no inicio da manhã. Não conseguia abrir os olhos, o corpo reclamava a
noite anterior, a festa as pessoas, a definição de identidades, a
caracterização de desejos, vontades, papéis... A decoração non sense daquela
casa adornada de tudo que se mostrava um nada a se acomodar em cada canto...
Paredes cheias de recordações e vazias de inspiração... Histórias sem nenhuma história,
sem nada! Virou-se procurando uma posição que a ajudasse despertar... Novamente
o celular... E então se levanta... Veste-se e sai na caminhada pra conversar
com ela mesma... Alguns minutos e está diante do lago, vendo-se nele refletida...
Matando a saudade, fazendo nascer a esperança naquele dia que apenas começava e
já era despedida... o sol era quase meio dia.
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A tarde ameaçava anoitecer... Clarice se agarrava as horas pra que não
passassem tão rápido... Buscava vencer a vida fictícia e metafórica pra fixar a
realidade, na escrita... Sua arte, como uma atitude diante do que é e quer ser,
quase sem ar... Alça voo, pipa sem controle do fio... Escapa da rotina estúpida
da vida cotidiana, dos conceitos e padrões, do obscurecimento social no
isolamento e negação do individuo. Faz no seu silencio a materialização do romantismo num protesto apaixonado contra o mundo catalogado
num elenco de itens que não a incluem...procura o lago e nele seu reflexo,
procura a manhã e escuta de novo o toque do celular avisando-a que queria
caminhar logo no início da manhã...a lua se vestia...
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Conversava sobre a solidão. Clarice ficava embriagada ouvindo o jovem
escritor a descrever sentimentos que a ela, familiares, a tomam desde sempre...
Sobre ficar sozinho (a)... Em silencio, contato direto e intenso, total, com o
que somos... Dentro de nós, único lugar e abrigo que edificamos para nos manter confortáveis na solidão estética e íntima, manifestada em nossa Quixotesca
figura... Em nossos blocos de anotações, albinhos
de fotografias, paleta de tintas, tocos de madeira, restos de qualquer coisa que
nos resta criar algo novo... Ideias quebradas, pensamentos mutilados pela
exclusão que sofremos sem alternativas que não a de voltarmos pra dentro de
casa e ficar lá... Aconchegados, sem ameaças, silenciados, ouvindo nossa musica
interior, nossa despedida e abraço de quebrar os próprios ossos...Clarice revira-se
acomoda-se no travesseiro perfumado e sempre fiel... não consegue dormir, num
movimento decisivo programa o celular...acordar para caminhar no inicio da manhã...adormece
com um sorriso ensaiando escapar pelo canto dos lábios...lá fora a chuva fina e
fria chovia...
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