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domingo, 3 de junho de 2012

Toque para Clarice

                    o sol era quase meio dia...
                    a lua se vestia...
               a chuva fina e fria, chovia...

Clarice  acordou com o toque do seu celular avisando-a que na noite anterior, ela dissera a ele que queria caminhar logo no inicio da manhã. Não conseguia abrir os olhos, o corpo reclamava a noite anterior, a festa as pessoas, a definição de identidades, a caracterização de desejos, vontades, papéis... A decoração non sense daquela casa adornada de tudo que se mostrava um nada a se acomodar em cada canto... Paredes cheias de recordações e vazias de inspiração... Histórias sem nenhuma história, sem nada! Virou-se procurando uma posição que a ajudasse despertar... Novamente o celular... E então se levanta... Veste-se e sai na caminhada pra conversar com ela mesma... Alguns minutos e está diante do lago, vendo-se nele refletida... Matando a saudade, fazendo nascer a esperança naquele dia que apenas começava e já era despedida... o sol era quase meio dia.

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A tarde ameaçava anoitecer... Clarice se agarrava as horas pra que não passassem tão rápido... Buscava vencer a vida fictícia e metafórica pra fixar a realidade, na escrita... Sua arte, como uma atitude diante do que é e quer ser, quase sem ar... Alça voo, pipa sem controle do fio... Escapa da rotina estúpida da vida cotidiana, dos conceitos e padrões, do obscurecimento social no isolamento e negação do individuo. Faz no seu silencio a materialização do romantismo  num protesto apaixonado contra o mundo catalogado num elenco de itens que não a incluem...procura o lago e nele seu reflexo, procura a manhã e escuta de novo o toque do celular avisando-a que queria caminhar logo no início da manhã...a lua se vestia...

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Conversava sobre a solidão. Clarice ficava embriagada ouvindo o jovem escritor a descrever sentimentos que a ela, familiares, a tomam desde sempre... Sobre ficar sozinho (a)... Em silencio, contato direto e intenso, total, com o que somos... Dentro de nós, único lugar e abrigo que edificamos para nos manter confortáveis na solidão estética e íntima, manifestada em nossa Quixotesca figura... Em nossos blocos de anotações, albinhos de fotografias, paleta de tintas, tocos de madeira, restos de qualquer coisa que nos resta criar algo novo... Ideias quebradas, pensamentos mutilados pela exclusão que sofremos sem alternativas que não a de voltarmos pra dentro de casa e ficar lá... Aconchegados, sem ameaças, silenciados, ouvindo nossa musica interior, nossa despedida e abraço de quebrar os próprios ossos...Clarice revira-se acomoda-se no travesseiro perfumado e sempre fiel... não consegue dormir, num movimento  decisivo programa o celular...acordar para caminhar no inicio da manhã...adormece com um sorriso ensaiando escapar pelo canto dos lábios...lá fora a chuva fina e fria chovia...


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