Mais um roteiro
caia sobre a pauta dos meus registros, ameaçado pelo obsoletismo que tem
rondado dia a dia meus escritos...
O ritmo
da criação contraria o compasso da realização condicionada ao tempo,
espaço e suas interlocuções...
Projetos de sonhos idealizados para concretizar utopias de uma existência que ultrapassa o simples viver...
Rumo ao viver
significativo e potencial de fecundações outras, que não a do simples viver
simplesmente a vida que nos foi dada...
Desta vez tratava-se da materialização
das imagens de Montserrat em desenhos fotográficos...exigências que incluem
outros lugares pra invenção... cumplicidades, co-autorias na criação de
dois elementos, personagens sem lugar e tempo determinado, vivendo cada imagem
numa superposição de corpos, pensamentos, almas...
Era preciso muito mais que um
script pra ser roteirizado.
Era preciso penetrar a subjetividade do
propósito...leitura apurada dos sentidos e das revelações que se mostram na
inspiração movedora desse invento.
Por que Montessert Gudiol? Que mistérios guardam
essa obra em seus vazios impenetráveis pelo expectador distraído, sonâmbulo da
noite dormida aos pedaços...
Percebi de pronto as lacunas do propósito e vi nas
personagens de Gudiol a indicação do caminho pra meu invento...deixei de lado a
dupla de personagens costumeiramente grafados por ela, tomei a figura solitária
e feminina.
Uma mulher no seu extremo da feminilidade, absorta entre as
laterais do portal imaginário por onde atravessaria a margem do rio...
Foi por
mim a escolhida...trouxe-a comigo retratando-me a mim mesma no tecido que a
aquecia entre meus dedos a fiar e colorir seu contorno e cenário, que lhe dei, com
flores inexistentes nos catálogos oficiais, uma árvore sem folhas, e que não
sombreia mas que acolhe e sustenta as parasitas, orquídeas floridas para
sempre, a embelezar seu entorno contornado pela inspiração e beleza, elementos
das quais jamais abandonaria.
Era preciso ainda que Ginógrafa viesse
diversificando seus instrumentos da escrita e com eles tingisse, aguadas cores
subtons, destonadas nuances, elementos escondidos no silêncio que habita mais
um sonho...transcrito e costurado entre tantos...salvo do obsoletismo, por que
realizado na pintura, bordado, espectro literário...amadurecido para que o
outro seja então retomado: a edição fotográfica das duas personagens
entrelaçadas num vínculo fadado a perpetuar no ideário da artista, sem riscos
do descarte da obra, da ideia, pelas limitações de mais um roteiro criado no afã
da inspiração que remonta sonhos em larga escala de invenções, ritmos acelerados
em descompasso com o tempo viável de suas realizações.
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
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