domingo, 30 de outubro de 2011
Palavras férteis
Era um torneio literário do qual ela participava pela primeira vez. Fora convidada por uma amiga que fazia parte da organização... esse pessoal das linguagens e da comunicação que inventam artimanhas pra provocar a inspiração nos escritores doentes da paixão pela escrita...ela se incluía entre eles. Propunham o seguinte imaginário: Diante da decisão de partir, a pessoa amada receosa de ver seu lugar ocupado por outra ideia, que não a que inspirava ela o seu poeta, estabelece, na hora da despedida, uma regra a ser cumprida após sua partida. Entrega ao poeta um formulário com 14 palavras desconexas em seus significados, porém, dotadas de musicalidade orquestrada pelas vogais nelas predominantes...espalhadas. Eram cinco tarefas todas endereçadas a temas que deveriam incluir conjuntos de palavras. Assim: Escreva um texto usando três das palavras da lista, ou,um texto divertido, brincante com duas delas; um endereçado a uma figura da nobreza imperial uma Princesa com uma delas... e assim por diante...Prazo: 48 horas para produzir e publicar num blog anônimo na Internet...Ficou extasiada com a ideia, pois há muito não experimentava tal sensação...sentiu-se novamente nos bancos escolares, aulas de redação, desafios e competição...vivera intensamente esse tipo de sedução...tinha um amigo com quem lutava uma luta de criar palavras com significados e toques de poesia...Agora vinha essa ideia ainda mais picante e criativa. Saiu com sua lista olhando pra cada uma das palavras. Imediatamente uma a uma ia se alojando em seu pensamento...desacomodando os espaços, compondo significados...Não teve mais um minuto de sossego, mal podia esperar...e então burlou secretamente as regras...abriu um arquivo clandestino e iniciou seu processo criativo...em menos de uma hora o primeiro texto se fazia...mas teve que esperar...ficou brincando com as demais propostas iniciando todas elas ao mesmo tempo...Encontrou-se com a amiga que a convidara participar e ficava ameaçando falar o texto que ainda não devia se mostrar...instigava, rodeava até ria de alegria e outra não entendia, não tinha como...Chegou a hora combinada...foi dada a largada oficial...E então, se entrega total à produção literal, percebe que algo forte vai engendrando seu ser...as palavras vão seduzindo, excitantes e desejosas de ser texto, e ele poeta escritor apaixonado pela escrita e pela musa inspiradora que o incita, embriagado qual dependente da poesia pra respirar a própria vida, fica a engravidar-se de cada palavra na gestação de um texto pra cada uma da lista. Em 48 horas gestação e 5 partos todos naturais, resultantes da fecundação das palavras e da fertilidade do poeta. Foi comprovada a hipótese: sua amada voltou e ele ainda estava lá com ela no pensamento e as 14 palavras que o aprisionaram no tempo. Durante toda a sua ausência que não se confirmou pois, pra ele ela jamais se afastou...estava nele em cada uma das palavras férteis de significados...gestadas pra ser texto publicadas. Férteis palavras férteis.
Ciborgue eu?
As vezes me pergunto, o quanto nos aproximamos da possibilidade de nos tornarmos ciborgues, com essa nova cultura de interação com a máquina, traduzida em todo e qualquer tipo de tecnologia, hoje tomando parte em nossas vidas. Quando a solidão se reconfigura pelo fato de não nos sentirmos tão sozinhos ao saber que do outro lado uma rede social integra nossa existência e podemos com ela interagir por meio da comunicação com possíveis outros desdobramentos. Face book, Face life, Face world. A solidão das pessoas solitárias só consegue tirar férias quando vai pro meio da cidade e se integra ao flash mob...encontro de tecno-humanos fingindo uma integração mais humana, facilitada pelo estar on line. A era digital nos trouxe a antropologia do ciborgue colocando-nos em uma espécie de vertigem do pós-humano, numa babel de culturas e perfis de relacionamentos, ao migrarmos para essa nova forma de nos comunicar, nos fazer ser e estar, e até mesmo nos amarmos...Nos amamos on line, nos comprometemos e até vivemos juntos on line...com algumas pessoas ou situações vivemos mais juntos on line que presentemente... on line nos despimos de pudores, de mazelas que o toque físico materializado causa...nos evitamos on line...disfarçamos nossa presença on line, despistamos... nos escondemos on line quando não queremos ser pegos on line...nos tocamos on line...sentimos com palavras, inventamos grafias pontuações tudo nos dando o estar juntos..Essa nova forma de nos relacionarmos segue nos dando elementos para uma análise cultural que nos traz a imagem do ciborgue a problematizar os pressupostos do pensamento contemporâneo sobre subjetividade, tecnologia, ciência, gênero e sexualidade, colocando em xeque os mitos de origem, as nostalgias de restauração, as fantasias de unidade e totalização e os raciocínios teleológicos. Vemos a dicotomia que sedimenta o pensamento, mente e corpo, organismos e máquina, natureza e cultura...Borram-se, esfumando, diluindo as fronteiras entre humano e máquina, numa nova ontologia do sujeito humano. Tudo se mistura sem linhas demarcatórias sem fronteiras delimitadas... Até que ponto essa nossa relação com a máquina hoje nos aproxima ou nos torna ciborgue: essa relação ambígua e indeterminada a que nos impomos usuários dependentes do mundo virtual e seus conteúdos. A metáfora do ciborgue nos leva a desconstrução da subjetividade humana, ou até mesmo a como nos tornamos um: ciborgue...Ciborgue eu? Ciborgue o que inventamos? Ou ainda o que pensamos ser, enquanto não somos ainda? Já viu os e-mails hoje? Já visitou seu face? Já se encontrou com seu amor pra dar bom dia ou boa noite? Escolher o filme, planejar o encontro, matar a saudade...Qual é a sua primeira ação ao acordar? Se considera em processo de ciborguear? Sim ou Não?
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
Não é a luz
Seguia pé detrás de pé, maneira única de caminhar quando, inesperada rajada de vento forte a desloca o corpo mudando-lhe a rota traçada no invento. Era como se fosse leve e fraca a ponto de ser soprada pé ante pé, noutra jornada...ao se ver a frente o novo caminho, tenta várias vezes retomar o anterior, traçado com cautela e conhecimento do solo pisado a escorregar suave sob os pés...olhava-o cada vez mais se distanciando...mas não deixava de olhar sempre a sua direção, meio que a se desculpar pela fragilidade leviana de permitir ao vento e sua força, a levar assim pela mão do impulsivo coração...No novo caminho busca conhecer a paisagem, os elementos, ruídos das tempestades, noites de luar estreladas, o canto, a magia...por que como no seu caminho, nesse também havia...um manancial de inspiração, poesia e encantamentos pelos quais quase já se acostumava em tempo de permanecer o invento. Mas, eis que dado momento, a sua frente uma enorme rocha íngreme e inóspita se ergue, ameaçando seu prosseguir...pensou que era mais uma do vento a lhe desafiar soprando-lhe teimoso mais esse invento...mas não...ele nem mesmo percebera o acontecimento... Desta vez era ela mesma... Procurando uma forma de voltar... E na última trégua da razão...constrói uma escuridão pra destacar o fio de luz que restava e vinha iluminar o caminho. Ele era ao mesmo tempo a luz e a rocha... E ela, ao mirar... buscava a rota de volta sem a certeza ainda de querer encontrar...A noite se fechava escura, mal se abria uma fresta pra ela passar com sua vela, chama agonizante a trepidar fagulhas, que ainda assim, faziam efeito de um farol quieto, desses cuja luz não tem força capaz de se levantar o necessário pra projetar caminhos...fica então a pensar se é a luz que importa na verdade ou se é essa escuridão que, em alguns segundos mostra, no fio de luz tênue... num clarão de quase nada, a estrada a sua espera, parada...No pódium sobe então pra defender essa invenção finalizada, de que não é a luz na verdade que importa... mas os segundos de escuridão que nos tira de traz da porta cerrada, nos leva pra janela aberta de nós mesmas, grávidas de luz... no escuro enluaradas...é o que importa.
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Lugar no criarte
Resolvi aceitar o convite pra jantar, coisa rara. Fomos a uma pizzaria cardápio trivial, difícil de não acertar gostos carnívoros e vegetarianos. O lugar era bonito tinha arte decorando as paredes e uma singularidade indicando os banheiros... Gosto dessa criatividade limitada das pessoas que escolhem formas originais para indicar o banheiro dos homens e das mulheres... o que quase sempre se mostra em fracasso confirmando a dificuldade que se tem para traçar limites determinantes sobre essas duas criaturas em suas fronteiras. Conversamos sobre isso outro dia...sobre os limites do masculino e feminino...a cultura do estigma e as prisões dos conceitos pré-concebidos pela moral turva estrábica. Mas era outro dia e outra pessoa em outro lugar. Pedimos o prato a bebida e passamos os dois a olhar o lugar...ele estava inquieto, olhava a todo momento o celular, ignorei... afinal quem queria sair pra conversar era ele...mesmo assim não pude deixar de notar...pra descontrair chamei sua atenção para uma escultura incrustada na parede a nossa frente e o nome do escultor...ele surpreso deitou o olhar sobre ela...eu perguntei...conhece? Ele diz acho que sim... é ...deve ser ele...tem esculturas por toda a cidade...de repente toca o celular...e ele com voz suave responde...vim comer com amigos...e você se alimentou , tomou seus remédios? Estou num lugar que tem uma escultura sua adivinha onde...uma dica pra você,é numa pizzaria...e num tom irônico...será que ainda se lembra...a voz do outro lado diz alguma coisa e ele responde...isso mesmo acertou...estou aqui...e você, está bem? Cuide-se não tenho como ir ai hoje...despede-se rapidamente e continua me olhando...enigmático...nem tanto para mim que durante a conversa e diante de mim...fui construindo cada significado de seu olhar, gestos, palavras, cada movimento do corpo se arrumando na cadeira, trocando a perna ora cruzando de um lado, ora de outro...passando os dedos finos pelo suor gelado do copo de cerveja a sua frente...estava preocupado com alguém com quem não queria mais se preocupar, no entanto sua melancolia acusava a presença viva de um sentimento que se metamorfoseava em suave e doce encantamento...Fiz o mesmo com seu interlocutor ao telefone...o construi pra com ele partilhar aquele momento...e vi sua preguiça esparramada num sofá grande escuro e também como ele envelhecido, copo de wisk puro nas mãos soltas... penduradas pelo braço esticado sobre o braço do sofá, telefone no ouvido voz enrouquecida, pele opaca, pálida...boca permanecida com gosto pela vida...finaliza a conversa e desliga resignado, desiludido, virando mais uma página de sua biografia.Num susto o vejo atravessando a mão sobre mesa me segurando o braço a me sacudir...hei...que foi? Ficou triste...o que aconteceu...calou-se de repente...nada disse eu foi o queijo da salada...derreteu.
Esta manhã, ao olhar sobre minhas escritas na pasta de arquivos em descanso esta me olhou...estava a espera de um lugar em mim...ainda que assim... no criarte...
Esta manhã, ao olhar sobre minhas escritas na pasta de arquivos em descanso esta me olhou...estava a espera de um lugar em mim...ainda que assim... no criarte...
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
EFEITO KRYPTONITA
Estava eu novamente a sofrer do ataque de Lex Luthor , desta vez ele enterrara-me nas costas uma lança pontiaguda feita do veneno da kryptonia mineral cujo efeito principal é enfraquecer-me tornando-me vulnerável a tudo e a todos. Sem forças para reagir resolvi tirar o sábado e dormir. A princípio pensava refletir sobre as causas desse novo ataque, depois, pelo exagerado torpor que me abatia e sem condição alguma de arrancar das costas a pequena lança me entreguei, sem nem mesmo cogitar alguma esperança de que Lois Lane pudesse chegar com seu amor platônico contido e paranóico e me salvar...muito trivial, banal até...precisava de outro roteiro. Dormir essa era uma boa para meus super poderes se recuperarem livrando-me do mal. Nada de computadores, redes sociais, nada de ficar a vista de todos, nada de ler o jornal, publicar no criarte, atender celular, nada de sair com a câmera pra fotografar, nada de damascos, de risos fáceis...silêncios todos isso sim aliviaria a dor dessa sobressaltada e nova armadilha de Lex Luthor a romper mais uma vez minha fortaleza, desarrumando tudo, me deixando kryptonizada total. Levantei no dia seguinte ainda podrona, bombada, resquicios do maléfico mineral e eu faminta de um vegetal, me veio a promessa de uma horta virtual num dos meus roteiros surreal... corri pra cozinha...busquei o avental e puz a me acordar, das artes todas, a que me faz frugal, cozinhar um prato sem sal com azeite e cereal...desastre total, fogo demais, panelas queimando, derrame de tudo, sujeira geral...volto cambaleando e ouço no radio o falado jornal...Lois Lane está vindo quer me salvar em troca, explicações, fico na dúvida se as tenho pra dar, se não seria melhor Lex Luthor voltar a me atacar e então mais um dia, um tempo pra hibernar e uma resposta pra ela inventar.
Tudo ou nada
O autor a provocava com a explicação da fisiologia e como funciona a lei do tudo ou nada. Uma experiência que consiste em dar choques elétricos em um músculo isolado da pata da rã inerte...quase morta...presa a tênue fio de vida que se agarra inconsciente à molécula de ar que transita, quando tudo já se foi, atrasada nos pulmões , como se a demorar de propósito pra encontrar a saída. Fica ainda um pouco mais, segurando o átomo de vida...tenta-se os choques inúmeras vezes...de início, o músculo chamado a reação, ignora...mantém-se inerte sem vestígios de energia vital...insiste não reagir...quer ficar mais naquela sensação de nada...isolada de um tudo que foi e que já a cansava por ser sempre e demais tudo igual. Mas, quando por fim reage eletrocutada, no cerne, chamada a deixar o nada e ser tudo outra vez, o faz com a máxima força e energia. Então finalmente retorna a vida, a morta por opção e necessidade de descanso, reúne todas as respostas das perguntas e explicações sobre o estar morta, enquanto é eletrocutada por choques no músculo isolado da razão lúcida e lógica que a faz quase todos os dias, ser assim meio morta e pronta pra ser tudo ou nada.
Banquete de conversa
Na mesa diante deles, verduras pra ela, animais pra ele, e uma conversa na bandeja se oferecendo pra ser prato principal. Sem dúvida o era como em todo a la carte que escolhiam a dois. Mais uma vez a conversa que conversavam era como esses números de tango onde os bailarinos têm a pista inteira pra rodopiar seus inventos nos passos dissonantes, improvisados em uníssono, em contra-passo, contra-canto...contra a repetição do ato...os dois no mesmo espaço de tempo e percurso mental, vão ao som das palavras tentando ser original...surpreender um ao outro interlocutor, sem desequilibrar, gestual malabarismos do pensamento articulado, mapeando cada linha do trajeto...trejeitos a replicar nuances da face que fala na boca do ouvido da frase, antes de ser arremessada no vento, publicada no pensamento e editada na fala...desafio da conversação alinhada ao repertório qual banquete literário, servindo-se de cada conceito sem nenhum preconceito em busca do ideal...ligações de sentidos, construções desiguais...humor estético...desenhos geniais, identidades surreais... caminhos outros inventados...diferentes lados e rotas...labirintos que desembocam na dúvida, abismo repleto de nada... caçada de significados pra comprovar a hipótese...perseguir a certeza e criar ligações para o mergulho no precipício de verdades, prontas e acabadas concebidas pra nada.
Tão assim daquele jeito.
Procurava um final para o conto que vinha arrastando na pauta aquele seu personagem que presentia, estava cansado daquela história que para ele inventara naquele dia...capengava numa descrição de sentimentos amarrotados, esgarçados no tecido que transitava entre a seda e a juta...o levava para as manhãs despertadas da noite mal dormida, o empurrava para o entardecer na busca de um raio de ultimo sol do dia, a reanimar sua alegria adormecida com tranquilizante pra suportar a instabilidade que o exauria...entrava com ele conduzido pelas mãos na noite em silenciosa ventania, na esperança de tocar com a escuridão macia e úmida, traçada com pinceis na tela vazia, o ponto de ouro de sua inspiração...exausto coração...Procura agora uma conclusão surpreendente...dessas que o leitor nem de longe sente que seria, tamanho percurso inóspito e persistente no tudo igual daquela descrição que vinha... limitado a mudar algumas palavras pra continuar descrevendo o mesmo sentimento e acontecimento, linha após linha. O tempo escorria apressado como se pudesse mais rápido trazer o final perseguido pra ser punjante o suficiente pra não ser banal... A manhã crescia direção ao dia alto, rumo a tarde finda, ponto de encontro da noite que inicia, nova jornada sem fantasia... busca das palavras que definem e dão rumo ao destino. Explicações do nada possível de se explicar. Caça palavras capazes de desconfundir a razão lógica...exercício do olho do furação sem olho pra derramar lavas... De repente, por que estamos buscando o final e já é hora de trazê-lo, uma música rompe aquela persistente agonia da busca do inesperado comovente desfecho e então, ela que o queria personagem incrustrado dentro de si qual pedra preciosa, pérola cultivada, musa a inspirar-lhe o ar respirado cada lance do olhar... abre mão, o solta personagem liberto agora das amarras de sua criação, no texto fadado ao enfado do enredo...e quando o esperado era ver sua imagem desaparecendo do campo do olhar, diluindo etéreo imaginário, num derradeiro cerrar das cortinas, sob os suspiros e lágrimas da platéia sem motivos para aplausos final...Eis o surpreendente final...livre ele corre de volta ao seu encontro, braços abertos, sorriso largo torto coração ao avesso, segurando firme o mesmo relógio agora bússola do tempo e direção do resgate ao começo... de mais um conto que, como aquele para ela, não era assim tão daquele jeito. Um sorriso largo, torto...coração do avesso perseguição do começo: final de pretenções e pretextos, pré-textos.
domingo, 23 de outubro de 2011
Dia de Luto
Estava sempre com ela feito uma ideia, como desses projetos que se acalenta, feito criança ao peito...e naquele momento notava sua falta... precisava sair ir embora e não a via pra ter certeza de que estava ali com ela, que estava bem...procura em volta e um medo assustador a invade... desejava que estivesse ainda ao seu alcance...Mas constata...não esta... por certo lá dentro,quem sabe...Precisava do seu silêncio pra poder entrar...afinal acabara de sair de um turbilhão de ruídos que ainda ecoavam com o vento... tempestades destas que carregam tudo com as águas enfurecidas ...famintas de erosões. Antecipa o silêncio pra entrar...ainda da soleira deita o olhar sobre o visível...nada...onde estaria ela cuja delicadeza, o sublime e o banal vivem sempre a ameaçar a existência...essa era uma parte que ela não queria escrever...e que também se escondia dela, por temor da construção que revelaria nas palavras escritas...personagens da fronteira de seu ser que enfrentam com ela descrenças, decepções e essa nova estranha que leva dentro dela...procura desesperada essa que resolveu lhe deixar feito ideia que some, sem explicações...essa que tem lhe dado planar entre as nuvens num fio tênue solúvel pronto a se soltar...e a libertar por inteiro...vê a linha divisória que se esgarça entre os seus sentimentos, sonhos, invenções, arquitetura dos desejos e o mundo real...um aperto no peito...um abismo a atrai... dirige-se aos aposentos mais distantes da entrada e saída de si mesma e a avista por fim num canto...cabeça tombada sobre o colo, cabelos desarrumados sobre a face pálida, mãos atiradas sobre as pernas abertas, jogadas para os lados, sem nenhuma estética, roupas amarrotadas como a sua alma, o rosto escondido sob lágrimas e os fios de cabelos colados nelas escamoteando a expressão alterada pela tristeza em que caíra naquela tarde final de festa, luzes ainda acesas, cristais sobre a mesa, riso ecoando pelos corredores de saída... despedida...princesa interrompida...vitima da relação penosa entre a ilusão e a vida; a criação do imaginário e o real... Não vê mais nada, seus olhos inundam-se da tempestade que cai agora sem hora marcada pra sossegar...volta pra casa procura na solidão do diabo um lugar pra sua e o seu silêncio, que a socorre e acaricia todo o ser...Respira e lembra que ainda não molhou o bonsai...não escreveu o poema do dia, da noite, da madrugada insone fértil de criação do belo da fantasia que acaricia e faz rir com o pensamento... Olha novamente mais uma vez a princesa disforme do desenho original...caricatura do que sonhou na tela...negação das musas de Matisse a deslizar suas vestes cavalgando o vento com seu amado...dia de luto... de lamento...iludido invento.
O mau não é ter uma ilusão, o mal é iludir-se
O mau não é ter uma ilusão, o mal é iludir-se
Naquela manhã clara orquestrada pelo vento instrumental, música sem letra pra ocupar a leitura dos significados... de dentro do âmago vem Saramago que gentilmente a acorda dos sonhos com suas geniais interpretações sobre a ilusão...que ela sem pressa retrata como seus artifícios de tornar a realidade sutil, revestida de existências surreais... Ilusões criadas, arquiteturas ainda não prontas pra serem edificadas e habitadas... arte em processo de conhecimento pelo criador...isso mesmo, esse arquiteto que se põe a conhecer a própria criação...pois ela extrapola sua razão e lógica...obra feita de material pouco usado e conhecido... inventação de personas e identidades que... para deixar de ser ilusão tem que ser viável e esta viabilidadde... por sua vez, e quase sempre, a sobressalta com voz de terror sussurrando... O mau não é ter uma ilusão, o mal é iludir-se. Com essa tese ela prossegue com as ilusões todas elas, tomando os cuidados para não se iludir tornando-as um mal. Acorda dos sonhos nesta manhã com ele ao seu lado, consolando-a pela ilusão ameaçada... Conversam, tomam chá amargo ela e Saramago... aromatizado apenas pelo néctar dos pensamentos, povoados de desejos de manter os sonhos intactos, ainda que a realidade os sobressalte a todo instante, em cada esquina da avenida, acostamento da rodovia, margem do rio, sentidos da experiência sobre o invento,inspiração a mudar de percurso... no espanto que lhe causa a ideia de iludir-se ao reconhecer o que se quer e, o que se tem... ilusão que pensa ter...iludida com o que está...no bem que significa a ilusão que tem, e no mal de iludir-se dela, nela, com e para ela. O mau não é ter uma ilusão, é iludir-se. O quão mal ela se encontra por estar iludida eis a incógnita desta manhã que arrasta a tarde pelos cabelos, a noite pelas lembranças e a ilusão pela vontade de não estar iludida mas de ter intacta a ilusão.
Naquela manhã clara orquestrada pelo vento instrumental, música sem letra pra ocupar a leitura dos significados... de dentro do âmago vem Saramago que gentilmente a acorda dos sonhos com suas geniais interpretações sobre a ilusão...que ela sem pressa retrata como seus artifícios de tornar a realidade sutil, revestida de existências surreais... Ilusões criadas, arquiteturas ainda não prontas pra serem edificadas e habitadas... arte em processo de conhecimento pelo criador...isso mesmo, esse arquiteto que se põe a conhecer a própria criação...pois ela extrapola sua razão e lógica...obra feita de material pouco usado e conhecido... inventação de personas e identidades que... para deixar de ser ilusão tem que ser viável e esta viabilidadde... por sua vez, e quase sempre, a sobressalta com voz de terror sussurrando... O mau não é ter uma ilusão, o mal é iludir-se. Com essa tese ela prossegue com as ilusões todas elas, tomando os cuidados para não se iludir tornando-as um mal. Acorda dos sonhos nesta manhã com ele ao seu lado, consolando-a pela ilusão ameaçada... Conversam, tomam chá amargo ela e Saramago... aromatizado apenas pelo néctar dos pensamentos, povoados de desejos de manter os sonhos intactos, ainda que a realidade os sobressalte a todo instante, em cada esquina da avenida, acostamento da rodovia, margem do rio, sentidos da experiência sobre o invento,inspiração a mudar de percurso... no espanto que lhe causa a ideia de iludir-se ao reconhecer o que se quer e, o que se tem... ilusão que pensa ter...iludida com o que está...no bem que significa a ilusão que tem, e no mal de iludir-se dela, nela, com e para ela. O mau não é ter uma ilusão, é iludir-se. O quão mal ela se encontra por estar iludida eis a incógnita desta manhã que arrasta a tarde pelos cabelos, a noite pelas lembranças e a ilusão pela vontade de não estar iludida mas de ter intacta a ilusão.
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
O Velho
Ele estava sentado no banco do quiosque do parque olhando a vida passar refletida no meu olhar transeunte... Era um entardecer amarelo, o vento tocava tudo bem leve querendo refrescar as idéias de quem sonha... com saudade...da vida que passa lenta...nostálgica. Quando o vi o imaginei na minha foto publicada no criarte com uma boa história inventada para ser a dele. Aproximei-me e o cumprimentei... falei de meu prazer em fotografar tardes amarelas... ele me olhava como que meio indignado...pele enrugada, olhos apertados, chapéu escondendo os cabelos ou a calvície...olhar calmo, pernas cruzadas, mãos sobre os joelhos...me olha enquanto falo...Posso tirar uma foto...prometo que ninguém o reconhecerá...estará em total segurança sua imagem comigo guardada...Sim pode ele responde e então eu pergunto...qual é o seu nome e ele diz Ângelo, ou Gabriel não me lembro mas sei que era nome de anjo...Distanciei-me a buscar melhor ângulo e o fotografei. Fui para casa e o revisitei imagem digital na tela do computador... o trouxe comigo juntamente com o quiosque, a tarde amarela, o vento que a tocava despenteando a relva...revirando a vida daquele homem marcada na face a idade...no semblante a nostalgia de quem sonha talvez, com uma grande paixão, dessas que não tem tempo de chegar nem de partir e fica lá presentemente a sua espera todas as tardes da primavera...Deve ser ele o da foto premiada... ainda não sei, mas da minha lente ele é o melhor, além do beijo proibido que ele esconde na lembrança...na história de paixão sem hora marcada...que eu inventei pra ele...
terça-feira, 18 de outubro de 2011
Leitor em movimento
O texto estava lá adormecido sem até então nenhuma chance do despertar merecido. Nascera durante a noite de insônia criativa de sua escritora mulher de poucas palavras e muitas idéias, poucas ações muitos pensamentos, poucas razões muitos sentimentos, poucos amores dignos de seu invento muita inspiração e desejo de uma escrita infinita que desperta noite a dentro manhã calma, tarde fria, madrugada em nostalgia...tela iluminada teclado disposto a se deixar ferir cada letra registro formal da invenção dela... do texto... enredo e obra em vida nascida... sem tempo de ter sido lida. E antes que a tarde de novo se mova noite adentro... um sinal avisa: há um leitor em movimento, vindo na direção do texto virgem do olhar atento, ele então o texto, revira-se na página, situa-se nas linhas endireita-se como se para receber a coroa de louros e ouvir o hino, ver a bandeira levitar tremulante qual sua emoção de texto prestes a desvirginar-se e tornar-se finalmente...sente a aproximação do olhar movente sobre ele deslizando suave, cílios varrendo com a pálpebra num vai e vem sensual...ritmado...a beijar suavemente cada letra, frase, idéias escondidas nelas...prontas para se mostrar todas pela janela dele o olhar descortinado...O texto prestes a romper seu silêncio...a respiração vibrando as cordas do pensamento...o olhar decisivo debruça-se sobre ele que se entrega languido pra leitura...tornando o mais nobre de todos aquele momento: o de ser despertado pra vida a sua e do leitor ainda que por uma fração do tempo. Despertado o texto vira ato, prova e fato e na leitura, acontecimento.
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
Consertador
Sebástian é o seu nome idade por volta dos 35 anos, estatura media forte, cabelos claros e lisos, lábios finos, olhos apertados por traz dos óculos de grau, meio tímido meio sorriso, meio solícito gentil sem igual, simpatia velada pela capacidade de consertar coisas quebradas, pelas desastrosas pessoas que vivem desmontando tudo... pra ver como é por dentro, por baixo, por traz e depois de tudo visto sob os vários ângulos e olhar de intérprete fatal...não consegue mais ver funcionar nem como antes nem como tal...deixa de lado tudo quebrado, desmontado, espalhado sem lugar pra se acomodar. Risco de descarte em cada quebraria desconcerto total. Sebástian sempre apostos na sua oficina virtual, maleta em punho, veste sua jaqueta de mais de mil bolsos todos ocupados com ferramentas das mais variadas funções e serventias. A principal delas, não é de ferro, de plástico, borracha nem de metal... também não é única, mas várias que se multiplicam nas combinações que Sebástian faz. São palavras que ele utiliza também como ferramenta nos consertos coisas e tal. Com elas, associa todas quantas possui, as expressões faciais, movimentos de braços e mãos feito um robô funcional, emotivo, no entanto, sem igual, capaz de brigar pelo conserto, sem medir consequências do seu verbalizar sem pressa de parar. Conheci Sebástian num dia em que estava prestes a descartar meus quebrados todos que não me serviam mais, por razões de inadequadas ao lugar onde eu vivia e aos espaços que dispunha em meus aposentos para tantas partes soltas, sem sentido pra significar algo com sentido. Sebástian veio pra me ajudar e também a ele se consertar no conserto que eu temia não ter mais como ficar.
Sonhos em pedaços
Saimos toda tarde no terraço de onde falamos sobre coisas que servem pra manter o tempo ali parado...preso com as palavras ainda que sem muitos significados...Mais uma vez ela se põe a me contar seus sonhos...cheios de enredos e personagens do bem e do mal a lhe perseguir...detalhes e nuances ricos em sua descrição floreada de adjetivos e verbos conjugados pra trazer o sonho, por meio da interpretação bem próximo do real...Fico ouvindo-a por horas aquela trama criada, num roteiro tão bem dirigido, que pro palco, não falta nada. Da iluminação, ao cenário e o figurino, componentes rigorosamente postos para o sonho que ela conta entusiasmada afirmando ter sonhado exatamente como tal. Vou juntando todos eles, os sonhos dela contados sempre que nos encontramos pra esse fim: ouvir os sonhos dela, por ela mesma sonhados e interpretados...Sonhava de novo o sonho enquanto o editava temperando-o com a entonação de voz e movimento do corpo convocado por ela pra também falar. E assim dia após dia...e a cada dia... ela vem pra contar seus sonhos que eu recolho os pedaços pra tentar saber se descubro: com eles, o que é que eu faço, se escrevo um conto, uma prosa, ou um poema meu...também sonhado? Se apenas escuto a mais esse sonho sonhado sem olhar pro relógio...no tempo parado. Ela conta os sonhos e eu brinco com palavras, nossos quartos são vizinhos e toda manhã tomamos sol no mesmo terraço. Com os sonhos que ela me conta eu faço um rio de frases que escorrem ondulando as águas...buscando repouso nas margens...imaginação fertilizada perigosa, exigente de vigilância pra não estragar a fonte de sonhos, invenções adivinhadas...ela sonha e conta o sonho, e eu ouço no sonho dela o meu sonho de escrever, na minha tela sobre o sonho que é dela, na poesia que eu faço, com esses sonhos em pedaços.
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Salvar-se
Não existe solidão nem desamor quando memória e imaginação são intactas, ilesas. A sensação de solitude inóspita do deserto em que se encontram os prisioneiros de si mesmos, desaparece com a capacidade de imaginação, nutrida de memória e seu conteúdo. Para escapar do deserto em solidão, fugir, voar como águia sobre montanhas, é preciso buscar na mémória tudo que conhece sobre a águia, seu vôo, as montanhas e a relação dela com a montanha e o vôo. É preciso ser autor do próprio deserto e da solidão seus significados e razão pra escapar dele, seus labirintos e janelas. Para fugir da insônia perturbadora no meio da interminável noite, num veleiro, sob a noite estrelada do céu que cobre o mediterrâneo em suas águas negras...é preciso conhecer e saber como é navegar num veleiro, velas içadas, ao vento e ao sabor das ondas em rompantes movimentos, é preciso conhecer a noite cujo manto estrelado cobre as negras águas do mar que para ser o mediterrâneo, há que se conhecer do mar, sua geografia e os encantos da região que contornam suas águas que enchem as ondas, que para serem rompantes, há que se ter a ideia do que é ser rompante...há que se ter experimentado romper-se assim...rasgando, partindo, quebrando pedaços espalhados atirados rompante! A imaginação precisa de conteúdos, conhecimentos potenciais de aplicação e uso versátil...precisa de memória, banco de dados coletados das experiências de aprendizagens, leituras, vivências, pensamentos nutridos de laboratórios que os testam e aperfeiçoam, tornando um saber a mais...que trabalhados com inventividade nos transportam para outros lugares e situações, para outros nós mesmos num outro lugar em outra situação e com outras pessoas, talvez até as mesmas mas outras mesmas. Uma dada informação conteúdo, experiência ou memória pode constar de diversas imaginações como peça flexível maleável pelo arquiteto do pensamento. Quanto mais conhecimento dispomos e quanto mais aprofundados em suas particularidades e possibilidades de interpretações e usos forem eles fugindo a superficialidade, mais real se torna o produto de nosso imaginário...nos dando até confundir, agradavelmente confundir, sonho e realidade...ao decepcionados constatarmos: merda era só sonho! Em fim, pra citar Cervantes há que conhecer Quixote, Rocinante, Dulcineia, Sancho e o tratado da loucura e da poesia que inspira a fuga do deserto, o vôo da borboleta, o canto da cigarra...o veleiro viável...os moinhos de vento...o lugar de deitar a paixão...determinada a salvar-se.
terça-feira, 11 de outubro de 2011
Dentro fora
Daquela vez não era de ler, nem de escrever, nem de falar...era apenas de sentir, silenciar para apreender cada circuito elétrico cerebral conectado ao coração, aos músculos, as entranhas...Não era de escrever...nem era pra falar...não tinha como sair pelo trivial caminho da garganta no rumor da língua pela voz...códigos secretos...não era esse o desenho...porta de saída. Era apenas de olhar para dentro e fora num ir e vir de fotografar em todos os ângulos... lugares possíveis...inatingíveis num dentro e fora que se deslocam no tempo das horas. Não era de escrever... não era de ler...interpretar com o olhar isso sim era de se esperar...sem letrar , grafar...nem ao menos tracejar como se faz ao telefone... caneta e papel rabiscando formas despretensiosas enquanto a fala escorre com a conversa...também não era...Era pra ficar ali sem pressa de chegar ou partir...imersão líquida...morna...sem forma...sem escrita, leitura, desenho...arquiteta sem prancheta, pintora sem pincel, fotógrafa sem câmera, escritora sem papel...rainha sem seu poderoso anel...Era pra ficar ali, aqui...nela...com ela ...pensamento escorrendo...olhar derretendo...corpo suspenso. Acordou com esse pensamento justamente quando se viu enorme bolha dessas de sabão... translúcida se erguendo tocada pelo ar...mais leve que pipa ao vento...mais densa que pensamento subindo...subindo...tocando arbustos quase explodindo...subindo... prendendo-se no fio imaginário posando de sol depois da chuva...está lá até agora...vejo daqui da minha janela dentro fora.
domingo, 9 de outubro de 2011
Sobre desamar o amor
Ao escrever o desamar o amor, transitamos por um lado, a consciência que construímos sobre como se daria essa tarefa, detalhando justificativas...quase que numa arquitetura do desejo ou da necessidade de desamar... uma receita de como fazer - Por outro lado, nos revestimos de um certo medo de ser infeliz ...muito infeliz...desagradável...inconveniente... com essa ideia tão macabra e predadora que é desamar o amor mas, que sabemos também que algumas vezes, no percurso da difícil arte de fazer acontecer, alimentar e dar futuro... presentemente ao amor que se tem, ela aparece por algum motivo... existente,visível, ou não. Assim finalizamos essa difícil escrita sobre o desamar o amor negando essa ação, talvez por receio de estragar o dia do leitor apaixonado vivendo o momento de construir e de acontecer o amor... ou ainda aquele que por ventura tenha sido recentemente desamado. Concluimos que a decisão de desamar o amor é burra sem dúvida...mas também, que as vezes, decidir amar, também é.
Desamar o amor
Desamar o amor... por que sangra...tem o vermelho como cor...Se esta ideia virar pintura em tela tatuada será assim...vermelha...
Pra desamar o amor
Tem que se fazer o caminho de volta sem perder nenhum atalho, tem que se fazer um inventário... de como aconteceu o amor que se quer desamar...Tem que se retomar cada desenho do percurso trilhado, cada elemento do cenário, cada por do sol, luar, ventania, escuridão, risos, alegria, sons musicais, ruídos...tem que se re-respirar o ar, reconhecer a identidade dos cheiros, perfumes, tem que desconstruir cada segundo que compôs o tempo de amar. Voltar a todos os relógios que marcaram esse tempo, sobretudo deles, o responsável pelo primeiro olhar...voltar a esse relógio responsável e reprogramar seus marcadores de tempo e de lugar...Pra desamar o amor tem que se reescrever a história com a ajuda da memória de cada ator personagem, seu script, roupagens, sentimentos, fantasias...Tem que voltar aos lugares todos eles visitados, imaginados, desejados de se estar com ele o amor que se pretende desamar...Pra desamar o amor tem que se recuperar todos os presentes, bilhetes, cartas, projetos de viagem, passeios, aventuras, realizados ou não...imaginados ou não, verdadeiros ou não, todos! Pra desamar o amor tem que re-escutar cada música que trouxe lembranças e sinalizaram desejo, carregaram escondido nas palavras e na voz do cantor, um pedido, uma proposta de amar de outro jeito, e lugar... re-ouvir cada música que compôs o repertório das tardes, noites, e suas presenças ausentes ou não...tem que saborear novamente cada fruta e semente que alimentou o amor...cada gole de água fresca que saciou a sede de querer amar este que se quer agora desamar...Tem que se revisitar cada escrita, seu objeto literário, inspiração, palavras, contextos e textos... pretextos que motivaram sua criação...tem que se voltar aos lugares, em cada um deles e tirar de lá as marcas que ficaram...provas do amor...testemunhas...registros...projetos secretos...tem que se pedir ajuda ao super herói do amor pra que ele refaça por no mínimo mil vezes o giro em torno da terra e voltar o tempo um ou dois dias antes, por segurança e para não errar, antes do amor encontrar...Pra desamar o amor tem que sofrer, chorar, tem que sangrar o sentimento até dar vazão, feito sangria que livra da febre o corpo ardendo sem ungüento que o alivie...o fogo que queima no desejo de amar...Pra desamar o amor, tem que se desamar com ele...se desfazer...se abandonar num canto de algum lugar qualquer...fora de si mesmo...um lugar desocupado e com espaço pra acomodar todos os pedaços...todas as gotas de sangue...as lágrimas...os risos...a alegria...a saudade...Tem que arrancar raízes pra não rebrotar...tem que desamar direito, bem desamado pro amor não mais querer amar...Desamar o amor é um trabalho insano que devora o ser que ama na mesa do banquete que sacrifica irmãos animais ...desamar o amor é fim de jornada...é derrota...é despedida...desamar o amor é vontade de quem não tem pra onde ir...é não querer mais se amar...é não se aceitar mais amando o amor que ama e quer desamar.Desamar o amor é uma tremenda burrice de quem não tem nada pra ler...escrever...não tem olhos pra fotografar o reflexo no espelho mais intimo e secreto... do olhar que capta o gosto de amar.
Pra desamar o amor
Tem que se fazer o caminho de volta sem perder nenhum atalho, tem que se fazer um inventário... de como aconteceu o amor que se quer desamar...Tem que se retomar cada desenho do percurso trilhado, cada elemento do cenário, cada por do sol, luar, ventania, escuridão, risos, alegria, sons musicais, ruídos...tem que se re-respirar o ar, reconhecer a identidade dos cheiros, perfumes, tem que desconstruir cada segundo que compôs o tempo de amar. Voltar a todos os relógios que marcaram esse tempo, sobretudo deles, o responsável pelo primeiro olhar...voltar a esse relógio responsável e reprogramar seus marcadores de tempo e de lugar...Pra desamar o amor tem que se reescrever a história com a ajuda da memória de cada ator personagem, seu script, roupagens, sentimentos, fantasias...Tem que voltar aos lugares todos eles visitados, imaginados, desejados de se estar com ele o amor que se pretende desamar...Pra desamar o amor tem que se recuperar todos os presentes, bilhetes, cartas, projetos de viagem, passeios, aventuras, realizados ou não...imaginados ou não, verdadeiros ou não, todos! Pra desamar o amor tem que re-escutar cada música que trouxe lembranças e sinalizaram desejo, carregaram escondido nas palavras e na voz do cantor, um pedido, uma proposta de amar de outro jeito, e lugar... re-ouvir cada música que compôs o repertório das tardes, noites, e suas presenças ausentes ou não...tem que saborear novamente cada fruta e semente que alimentou o amor...cada gole de água fresca que saciou a sede de querer amar este que se quer agora desamar...Tem que se revisitar cada escrita, seu objeto literário, inspiração, palavras, contextos e textos... pretextos que motivaram sua criação...tem que se voltar aos lugares, em cada um deles e tirar de lá as marcas que ficaram...provas do amor...testemunhas...registros...projetos secretos...tem que se pedir ajuda ao super herói do amor pra que ele refaça por no mínimo mil vezes o giro em torno da terra e voltar o tempo um ou dois dias antes, por segurança e para não errar, antes do amor encontrar...Pra desamar o amor tem que sofrer, chorar, tem que sangrar o sentimento até dar vazão, feito sangria que livra da febre o corpo ardendo sem ungüento que o alivie...o fogo que queima no desejo de amar...Pra desamar o amor, tem que se desamar com ele...se desfazer...se abandonar num canto de algum lugar qualquer...fora de si mesmo...um lugar desocupado e com espaço pra acomodar todos os pedaços...todas as gotas de sangue...as lágrimas...os risos...a alegria...a saudade...Tem que arrancar raízes pra não rebrotar...tem que desamar direito, bem desamado pro amor não mais querer amar...Desamar o amor é um trabalho insano que devora o ser que ama na mesa do banquete que sacrifica irmãos animais ...desamar o amor é fim de jornada...é derrota...é despedida...desamar o amor é vontade de quem não tem pra onde ir...é não querer mais se amar...é não se aceitar mais amando o amor que ama e quer desamar.Desamar o amor é uma tremenda burrice de quem não tem nada pra ler...escrever...não tem olhos pra fotografar o reflexo no espelho mais intimo e secreto... do olhar que capta o gosto de amar.
sábado, 8 de outubro de 2011
Surpreendente formalidade
Faltavam 40 minutos pra ela entrar na sala de defesa... a candidata ao título de longe a olha insegura...nos últimos dois dias ela desconstruiu os 5 capítulos de teorização e análises de dados captados pelo olhar daquela principiante investigadora científica...4 anos de estudos e de pesquisa...dentro de instantes iniciam a árdua tarefa de apontar falhas técnicas, objetivas, abstratas, cognitivas, estéticas da escrita! Seu mestre... o mesmo amigo de tempos de pesquisas em noites de tempestade, errando caminho, procurando a verdade... hoje ela é júri de seu trabalho e orientação...ele que se lhe mostra meio cansado...doce e sensível conservado...ainda é carnívoro como nos tempos idos...quando debatiam sobre a natureza humana e a antropofagia....discussão teórica que acabava em poesia...um tapa suave nas costas, um sorriso torto e amigo...ninguém convencia ninguém... tudo prosseguia igual...ela vegetal ele animal...reinos opostos...teoria igual...Ela se mantem impaciente enquanto aguarda, remexe na memória recente... de um outro amigo mais presente e dele uma palavra que ganhou naquela manhã, quando lhe pediu uma farta em vogal ... distraia-se tirando-se dali por meio da palavra... escapulindo do rigor que antecede o julgamento a arguição preparada para apontar erros...fica a repetir brincando com apalvra que ganhara, seus os sons consoantes preguiçosas se dando as mãos pra assegurar dominação pela quantidade: cinco vogais de uma só vez...oito consoantes confirmam hegemonia se juntam cantando aos ouvidos, mexendo com ela, provocando a inspiração vinda pelo vento da manhã direto ao acervo da invenção que não escolhe o final da defesa pra se codificar...SURPREENDENTE!!! Antes mesmo de iniciar os trabalhos ela ainda revê arquivos relê poemas que lhe mostram o lugar e o caminho...está ali mas não é ...Levanta a cabeça e vê a candidata se dirigindo a bancada, vão compor a mesa e ela ainda estava lá presa a esse adjetivo surpreendentemente desdobrado em mais de cem mil sentidos que a deixam no limite entre estar ali e lá...nela mesma e na avaliadora, na poesia e no rigor do exame sem surpresas...sabendo já os resultados...as recomendações e seus recados...pura formalidade!
Interpretativa Concepção
Foto Suê - Berlim 2011. |
Na verdade o que queríamos com nossa conversa era mesmo fazer dela um tributo a vida minha a dele a nossa... a de todos os seres fecundos ou não, mas fecundados, conceptíveis ou não mas concebidos... Trazer para a cena a origem, descrevendo o mágico balé que se processa na corrida desenfreada dos serzinhos escalafobéticos, tresloucados espermatozóides que saem disparados em jato, sem planejar roteiro, sem sondar o terreno, sem treino, repetidos treinos...numa única vez querem, todos eles, ganhar o único primeiro prêmio...audácia e ambição, ingenuidade, ignorância da situação que vão enfrentar primeira vez...Nem mesmo estudam a direção simplesmente se atiram em velocidade desmedida, é como se esperassem que o alvo, o ponto de chegada a vitória, os capturassem, os trouxessem sugados para o primeiro lugar no pódio...ingenuidade...desconhecimento do que é concorrência de quem é o alvo óvulo astuto que espera quase sádico o resultado...Lembramos de nós mesmos em nossas corridas em direção de um relógio do tempo de um sentimento desconhecido...Questão de velocidade? É isso... uma questão de velocidade, mas não só, também uma questão de direção e foco...muitas questões para um momento tão sem tempo para as reflexões, concepções sobre corridas, alvos e vitórias, premiações e derrotas. Derrota que significa descarte... Para fora! Sorte que nem isso eles sabem (por que acharam que são eles e não elas espermatozóidas)... Nem chegarão a ver o vencedor... Não ficam para as homenagens, o toque do hino... as medalhas de um único lugar no óvulo. Campeão que será reverenciado para sempre... O que te fez, me fez, nos fizeram...o corredor e nadador que nos remete a continuar essa corrida competitiva em cada respiração de nossa vida, por ele iniciada solitariamente mas que após sua vitória passa a ser equipe de três: o alvo atingido, ele, e o concebido...Sobre a ideia que falávamos... éramos desde o início um deles, correndo sem planos de vôo, navegação, viagem...sem bússola, sem carona...apenas com elas...as idéias, que não precisam, e ainda bem, ser apenas uma selecionada...fertilizada na inspiração de escrever uma nova... concebida pra ser na leitura recriada, refecundada, reconcebida, em cada uma...leitura... que se pretende interpretativa...nova vencedora da corrida na escrita! A minha a sua a nossa.
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Pérola
A pérola desprendeu-se do pingente... pêndulo que dançava de um lado para outro no colo daquela mulher que desejava o colo da pessoa amada mas que distante dela, lia seu jornal sem notá-la. A ela restava alimentar sua pérola, cintilante esfera alva, produto de moluscos, estranhos predadores que invadem e atacam o organismo da ostra, como vermes ou grãos de areia que se transformam gema ou pérola. Coisa morta, vira objeto de joalheria, de desejo, vaidades, demonstrações de afeto que não convence sozinho precisa dela a jóia... e no aniversário de qualquer coisa ela ganha de presente no estojo de veludo para ser esquecido nele com as demais, ano após ano. Mas ela compadecida daquela pérola solitária desdenhada pelo colar com suas mais de 40 iguais a ela, tirou-a daquele ambiente hostil e colocou no pescoço. Passou a conversar com ela projetada no espelho todas as manhã ao perfumar-se para sair em busca de alimento para ambas. O da pérola passou a ser também o dela. Ambas mortas a pérola e ela...vagavam cada uma no seu lugar e ponto de observação. Inseparáveis. Naquela tarde a pérola resolveu que uma delas, ao menos uma, se libertaria daquela prisão morta viva morta...desprender-se e buscar outro lugar para ficar. Já há algum tempo vinha procurando até que um dia percebeu sua existência e como nele chegar. Desprendeu-se e foi descendo, descendo como se num desfiladeiro sem fim, porém suavemente, deslizando quase que num balé aquático, experimentava a sensação de ser única, no aconchego da ostra novamente, viva, líquida e morna seu novo eterno lar. O pescoço nú da perola ausente sentiu-se revestido de suave sensação de bem estar, uma insustentável levesa de tornar-se com ela de novo viva na ostra.
terça-feira, 4 de outubro de 2011
Byron
Gosto de Byron, sua poesia e sobretudo sua personalidade... adorava água era um bom nadador...também gosto de nadar...Byron fazia distinção entre a femealidade como primitiva e arcaica... nela a abundância se manifestava na obesidade, e a feminilidade como sendo social e estética...Identifico-me com Byron, também para mim, a feminilidade é social, e mais que estética é um pas de deux que se projeta sob os pés dela equilíbrio leve... lento e delicado movimento de mulher que se sustenta sobre os próprios pés ... Admiro Byron em sua influência mágica sobre as pessoas com suas maneiras encantadoras, sua voz, sorriso e fascínio...puro carisma e força de personalidade, divorciada do conceitual ou moral...Estréio Byron na sua, minha ociosidade das horas, e o compenso com minha fidelidade leitora, os maus tratos a crítica respondida genial e satíricamente nos bardos Ingleses e críticos escoceses... Me invento Byron...carisma eletromagnético numa cintilante fusão de masculino e feminino, singularmente agradáveis em sua beleza arquetípica. Byron persona sexual revolucionária pela beleza e postura... conheço Byron no meu mundo estético...presente nos valores que teço com agulha, pontuando o texto na escrita que busco em Byron, inspirar e aprimorar o primor de Byron, no texto...no meu... de Byron
Foucault ou sobre estar ou não ali
Antes de iniciar sua fala e para mostrar a todos os presentes sua consciência sobre o conhecimento acumulado e as pessoas que constituem a que é... citou genialmente Foucault...iniciando sua frase: Como diria Foucault eu não queria estar aqui...situando na sua fala a citação, ela explica: a responsabilidade de estar aqui é grande pois tenho que admitir que sou o que fizeram de mim os autores e as leituras que fiz, meus professores, as pessoas... tudo e todos com quem contraceno minha existência...Eu não queria estar aqui...mas estou e se não estivesse não poderia dizer que... eu não queria esta aqui...Ela também não queria, nem eu e pelo que investiguei na platéia, ninguém queria estar ali, mas estavam...estavam para expressarem em suas faces, seus corpos inquietos na cadeira, mãos perdidas procurando acento na caneta sobre o bloco...pra mostrarem que não queriam estar ali...olhei mais atenta e vi com os olhos que leem significados, que não havia mesmo ninguém ali...nem mesmo ela...nem eu...nem a palestrante que por sua vez citou Foucault e rapidamente se retirou. Antes de sair olhei mais uma vez para a mesa onde estiveram as representantes das autoridades que não vieram...elas também não estavam mais...foi quando o vi... solitário a distrair-se com seu pêndulo, sem nenhuma intenção de vigiar e punir a ordem do discurso...ele mesmo...demonstrado na microfísica do poder de estar nesta minha história da loucura, da minha... da dela...de quem estivera ali sem querer estar...o próprio Foucault!
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
lua metade inteira
Em meio a tantos desejos de projeção, fogueiras de vaidades, palco de fundo roído prestes a desmoronar numa pisada em falso...ela fora a escolhida. Na sua figura arrojada mas despretensiosa transitava pelos espaços do poder sem a menor ambição dele...e justo ela, qual lua pela metade no céu de azul por inteiro querendo apenas ser a que construia a cada riso, sonho, desejo, invenção de si mesma...Sem competir destaques e projeções. Fora escolhida para escrever a escrita, representar a voz e a presença altiva e poderosa da autoridade maior do lugar...ela foi...amoleceu derretendo a voz mas foi...esmerou-se na postura firme e foi...escreveu para ler e foi...Agora ela é aquela que subiu ao púlpito para falar aos que se matavam para estar ali... e ela, simplesmente por polidez, escreveu a escrita que lhe pediram escrever...falou a palavra cumpriu a promessa...se fez mais uma dentre as muitas que já começara se tornar...
domingo, 2 de outubro de 2011
Re-dar a luz
O telefone tocou desmontando tudo com a notícia que rompeu tímpanos se alojando no cérebro, a dissecar pensamentos, sangrar idéias com palavras enlouquecidas que pediam extravase na escrita...Os olhos queriam conferir o estado das coisas, as mãos tatear escombros, juntar partes da dor, modelar a obra criada, vesti-la de plumagens estéreas do sentimento genitor, diante dos ditames da surpresa, que afugenta a alegria, espalha o terror da morte e a abandona... ruminando a capacidade de superar impactos, inventar ainda que a última salvação...um Deus poderoso, super herói que retorna 360 graus para o antes de tudo acontecer. Ela mãe corria ao encontro do seu príncipe menino, feito homem feito menino, ameaçado... ferido. Seguia cega, muda guiada viagem longa, escrita entrecortada, pista dupla dor e medo, espera infinita, certeza do restauro alimentado pelo poder materno. Eterna espera em fim o vê...branco pálido lábios vermelhos ressequidos ensaiando sorriso torcedor as vésperas do jogo. Debruça-se sobre o corpo tão dela conhecido perfume ainda presente... o mesmo do nascedouro...nunca esquecido... deita-se inteira flutuando sobre ele, e numa transfusão de vida, o recolhe de volta ao útero, o refaz em segundos e lhe dá novamente a luz.
Medo, mole, morta?
Na noite apressada em ser silêncio e descanso se vê ameaçada...ela era eu a sondar o que estava para acontecer...Precisava urgente daquele vazio pleno da meditação ou estado de oração...a lembrança do seu amor a entristecia... assustadoramente trazia o temor de se perder aquela que estava...e que sabia tanto se conquistara para chegar onde chegara...as estrelas queriam brilhar surpresas...assustadores sentimentos. Precisava expulsar pensamentos e com eles todos os inventos adivinhados e planejados... Algo estranho e sinistro rondava seu coração ...era preciso esvaziar o depósito de desejos, afugentar a escrita obcecada que a desviava do vazio repleto de um quase tudo ainda quase nada. Encontrava-se num estado de emergência causado pelo abalo sísmico do vulcão de idéias e palavras que a faz quem é. Continua a perguntar perguntas sem respostas qualquer uma que a mova a interromper a escrita... Os acontecimentos lhe aconteciam sem acontecer nos seus inventos e então se via sem o controle deles, falida, fisgada na pequenez do ser longe de casa da tela iluminada, longe daquela que vinha colorindo, decorando a moldura, desenhando palavras que a resignificassem assim... Medo, mole morta. Parar de escrever era parar de respirar o ritmo da caneta a deslizar no papel longe da margem, do teclado... sem a musica do piano em cada esquina a soliloquiar navegante no escuro da esperança plena. Parar de escrever é morrer...é estar mole, medo, morta...medo, mole, morta?
sábado, 1 de outubro de 2011
Des Conhecido
Ele estava lá olhar perdido captado pelas lentes de sua câmera num audacioso zoom. Chegou tão perto que poderia tocá-lo cílios varrendo a projetiva...Conhecia aquele homem, sabia quase tudo de suas viagens pelos grandes economistas suas críticas ao modelo socialista. Por muitas vezes fora causadora do debate que terminava sempre num rompante que separava ainda mais o que já se separara levemente. Conhecia aquele homem até que um dia passou a des conhecer, des saber, des fazer os pactos de ser sua seguidora cega, a tatear suas crenças e verdades, sem notar as tochas que tremulavam iluminando ainda que incertas, seu caminho. Reinventou sua origem e acontecimentos e quase perdeu-se dele endereço e contatos táteis...partiu para uma outra desconhecida dele, dela. Ele por sua vez, para não perdê-la definitivo inventou nela, uma outra que passou a cuidar feito planta que não sobrevive sem água, sol e sem aquela conversa diária ao pé do caule, sobre o tempo e as intempéries. Um escravo sem senhor ou senhora, um senhor sem súditos... eis como o via. Perguntava-se o que o levara a aquele designio de atormentar-se com suposições de prejuízos quaisquer que a fizessem sofrer, ameaçassem sua existência razão dele própria vida. Para proteger-se da dor de perdê-a a sufocava, tirando-lhe o ar secando-lhe a seiva vital com muita dedicação. De vez em quando, para economizar a vida dela, se afastava pra que sua proteção não fosse a ela fatal...mas voltava...sempre redobrada obsessão cuidadora. E Ela, a que se foi, olhava de longe, aquele homem dela agora um des conhecido que dela mesmo, pouco conhece agora...assim, igual, quase, sempre..
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