Resolvi aceitar o convite pra jantar, coisa rara. Fomos a uma pizzaria cardápio trivial, difícil de não acertar gostos carnívoros e vegetarianos. O lugar era bonito tinha arte decorando as paredes e uma singularidade indicando os banheiros... Gosto dessa criatividade limitada das pessoas que escolhem formas originais para indicar o banheiro dos homens e das mulheres... o que quase sempre se mostra em fracasso confirmando a dificuldade que se tem para traçar limites determinantes sobre essas duas criaturas em suas fronteiras. Conversamos sobre isso outro dia...sobre os limites do masculino e feminino...a cultura do estigma e as prisões dos conceitos pré-concebidos pela moral turva estrábica. Mas era outro dia e outra pessoa em outro lugar. Pedimos o prato a bebida e passamos os dois a olhar o lugar...ele estava inquieto, olhava a todo momento o celular, ignorei... afinal quem queria sair pra conversar era ele...mesmo assim não pude deixar de notar...pra descontrair chamei sua atenção para uma escultura incrustada na parede a nossa frente e o nome do escultor...ele surpreso deitou o olhar sobre ela...eu perguntei...conhece? Ele diz acho que sim... é ...deve ser ele...tem esculturas por toda a cidade...de repente toca o celular...e ele com voz suave responde...vim comer com amigos...e você se alimentou , tomou seus remédios? Estou num lugar que tem uma escultura sua adivinha onde...uma dica pra você,é numa pizzaria...e num tom irônico...será que ainda se lembra...a voz do outro lado diz alguma coisa e ele responde...isso mesmo acertou...estou aqui...e você, está bem? Cuide-se não tenho como ir ai hoje...despede-se rapidamente e continua me olhando...enigmático...nem tanto para mim que durante a conversa e diante de mim...fui construindo cada significado de seu olhar, gestos, palavras, cada movimento do corpo se arrumando na cadeira, trocando a perna ora cruzando de um lado, ora de outro...passando os dedos finos pelo suor gelado do copo de cerveja a sua frente...estava preocupado com alguém com quem não queria mais se preocupar, no entanto sua melancolia acusava a presença viva de um sentimento que se metamorfoseava em suave e doce encantamento...Fiz o mesmo com seu interlocutor ao telefone...o construi pra com ele partilhar aquele momento...e vi sua preguiça esparramada num sofá grande escuro e também como ele envelhecido, copo de wisk puro nas mãos soltas... penduradas pelo braço esticado sobre o braço do sofá, telefone no ouvido voz enrouquecida, pele opaca, pálida...boca permanecida com gosto pela vida...finaliza a conversa e desliga resignado, desiludido, virando mais uma página de sua biografia.Num susto o vejo atravessando a mão sobre mesa me segurando o braço a me sacudir...hei...que foi? Ficou triste...o que aconteceu...calou-se de repente...nada disse eu foi o queijo da salada...derreteu.
Esta manhã, ao olhar sobre minhas escritas na pasta de arquivos em descanso esta me olhou...estava a espera de um lugar em mim...ainda que assim... no criarte...
Esta manhã, ao olhar sobre minhas escritas na pasta de arquivos em descanso esta me olhou...estava a espera de um lugar em mim...ainda que assim... no criarte...
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