Estava sempre com ela feito uma ideia, como desses projetos que se acalenta, feito criança ao peito...e naquele momento notava sua falta... precisava sair ir embora e não a via pra ter certeza de que estava ali com ela, que estava bem...procura em volta e um medo assustador a invade... desejava que estivesse ainda ao seu alcance...Mas constata...não esta... por certo lá dentro,quem sabe...Precisava do seu silêncio pra poder entrar...afinal acabara de sair de um turbilhão de ruídos que ainda ecoavam com o vento... tempestades destas que carregam tudo com as águas enfurecidas ...famintas de erosões. Antecipa o silêncio pra entrar...ainda da soleira deita o olhar sobre o visível...nada...onde estaria ela cuja delicadeza, o sublime e o banal vivem sempre a ameaçar a existência...essa era uma parte que ela não queria escrever...e que também se escondia dela, por temor da construção que revelaria nas palavras escritas...personagens da fronteira de seu ser que enfrentam com ela descrenças, decepções e essa nova estranha que leva dentro dela...procura desesperada essa que resolveu lhe deixar feito ideia que some, sem explicações...essa que tem lhe dado planar entre as nuvens num fio tênue solúvel pronto a se soltar...e a libertar por inteiro...vê a linha divisória que se esgarça entre os seus sentimentos, sonhos, invenções, arquitetura dos desejos e o mundo real...um aperto no peito...um abismo a atrai... dirige-se aos aposentos mais distantes da entrada e saída de si mesma e a avista por fim num canto...cabeça tombada sobre o colo, cabelos desarrumados sobre a face pálida, mãos atiradas sobre as pernas abertas, jogadas para os lados, sem nenhuma estética, roupas amarrotadas como a sua alma, o rosto escondido sob lágrimas e os fios de cabelos colados nelas escamoteando a expressão alterada pela tristeza em que caíra naquela tarde final de festa, luzes ainda acesas, cristais sobre a mesa, riso ecoando pelos corredores de saída... despedida...princesa interrompida...vitima da relação penosa entre a ilusão e a vida; a criação do imaginário e o real... Não vê mais nada, seus olhos inundam-se da tempestade que cai agora sem hora marcada pra sossegar...volta pra casa procura na solidão do diabo um lugar pra sua e o seu silêncio, que a socorre e acaricia todo o ser...Respira e lembra que ainda não molhou o bonsai...não escreveu o poema do dia, da noite, da madrugada insone fértil de criação do belo da fantasia que acaricia e faz rir com o pensamento... Olha novamente mais uma vez a princesa disforme do desenho original...caricatura do que sonhou na tela...negação das musas de Matisse a deslizar suas vestes cavalgando o vento com seu amado...dia de luto... de lamento...iludido invento.
domingo, 23 de outubro de 2011
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