sábado, 3 de setembro de 2011
Ècrivain
Eu deliciosamente a observava... estava mais uma vez situando o pensamento quando ouve uma voz metálica perguntando-lhe sobre seus apontamentos...o que tanto escreve...trabalha pra algum jornal...editora...pra que afinal? Ela responde qualquer coisa no seu francês genérico na esperança dele desistir da curiosidade. Pensava ela sobre como fazer para aliviar a curiosidade das pessoas que se perturbam tanto com sua presença, caneta, bloco de anotações e câmera em ação....afinal uma escritora ensaísta em férias que se dispôs atravessar para o outro lado do próprio oceano, não merecia ao menos privacidade para escrever? Como absorver toda a inspiração de cada paragem sem afetar os vizinhos de viagem que se esbarram nos lugares? Como calar os guias que se põem a falar sem pressa, para ouvir a brisa e os ruídos das cores e das habitações? Como escrever sem papel e caneta se os brancos da memória estão todos preenchidos com as perguntas curiosas daquele senhor? Percebeu que ele continuava tentando obter respostas...retomou seu verbo...você é jornalista ou de alguma ONG dessas que preservam culturas...veio pra ver o rio ou só quer ver Praga...já soube o que aconteceu aqui em 1964? Num esforço pra se manter gentil quase sufocada tenta a última comunicação de basta: mira...Je suis artist écrivain... no hablo, no parlo...I don’t exist...I am nothing...You don’t see me...mêu me deixa em silêncio por favor...não vê...estou escrevendo...sabe como...me entende? Ele sorri e ela quase enfurecida percebe que a curiosidade só aumentou. Fiquei atenta para não perder um movimento sequer... por um instante achei que ela perderia a razão...mas não. Levantou-se desviando, acenou com a cabeça se despedindo ao mesmo tempo agradecendo e prosseguiu sua jornada a procura de um silêncio... lugar pra deixar fluir o pensamento, e um ombro de apoio ao seu braço suspenso caneta e papel e se possível um riso querendo se deitar...
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