O voo pode durar muito ou poucas horas... Não importa...duas preocupações moram na cabeça do viajante: o sucesso da aterrissagem...afinal o piloto também está cansado...ficou ali o tempo todo no avião...ou não? Não vem ao caso... A segunda o reencontro com a bagagem. Em solo, saem todos pelo corredor espremidos como gado em direção a esteira giratória onde começa o drama da espera, a identificação e por fim....o resgate. Eis o que vejo então. A platéia desembarcada da aeronave diante da arena circular a espera do início do espetáculo. Cada um tem algo valioso e querido protagonizando a cena principal. As esteiras rolantes circulares são acionadas e da pequena porta de saída do bagageiro...entrada pro palco, elas vão surgindo. Entram em cena...meio que tímidas, amarrotadas, desajeitadas, cabelos desgrenhados, algumas bocejando, outras tirando a calcinha do vão, arrumando os óculos, a alça do sutiã, também aquelas que conferem a braguilha, arrumam com as pontas dos dedos a barba, acomodam o saco, coçam o nariz, olham pro celular, arrumam o boné, cabeça inclinada pro chão...mãos nos bolsos...vão sendo arremessadas uma a uma. Inicia-se o desfile na passarela, sob os olhos a roer unhas de seus donos...Como que num pacto comum, evitam levantar os olhos...não facilitam o reencontro...parece até que pouco importa se serão encontradas ou não...diferentes de seus donos, não sofrem com a possibilidade de ficar perdida em algum canto,ser violada...essas coisas que aterrorizam os passageiros nos aeroportos do mundo inteiro!..Indiferentes... olham-se entre si meio estranhadas meio companheiras de viagem...uma a uma vai sendo encontrada e retirada da pista...Sem nenhum gesto de afeto daquele que a espera com tanta agonia e medo de perdê-la!...Estranha atitude...E então, numa ação coletiva constatam que não tiveram tempo pra quase nada!15 horas de viagem lado a lado, umas sobre as outras, num contato beirando a promiscuidade...tanta intimidade pra nada!Agora mal se olham ou se despedem. O grupo vai se descompletando até não sobrar mais nenhuma...Fiquei olhando aquela repetida cena daqueles dias viajando de aeroporto em aeroporto, tive pena delas. Fui tentada a inventar um script, embora tivesse pouco espaço no bloco de anotações... escrevi apenas um final que considerei pouco mais animador que aquele. ... e então as vi trocando identificações, souvenires, fotos, se abraçando, fazendo a maior zona, misturando-se com as bagagens do voo que estava chegando...teve uma até que sacou uma champagne erguendo um brinde. Mais afastadas, estavam aquelas que ficaram cúmplices numa relação mais íntima de gran finale, comemoravam felizes a experiência... sem as marcas comuns das despedidas... e a minha estava lá...entre elas...
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
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