terça-feira, 20 de setembro de 2011
Morta
No fim da tarde, enquanto o riso procurava um lugar pra sentar e acalmar a alegria exagerada meio que em hora insuficiente pra ser demorada...inventamos uma outra que morre na história. Como a Wolf na escrita “As horas” que se detém largo tempo pra decidir sobre a morte de uma de suas personagens...em menos de duas horas fizemos a nossa e sua morte. Nos inspirou também as Pontes de Madison, o filme e outras fantasias que nos habitam paradoxalmente sem pressa e sem tempo para ser invento. Era uma mulher madura como fruta pronta pra ser alimento in natura, vivia o outono de sua jornada sem nenhuma vontade de ver chegar o inverno de sua vida. Sentia-se inventada, irreal, invisível. Fantasia da mente inquieta da artista que não decide se a pinta em tela, se a canta em versos, se a borda em linho ou se a serve com um bom vinho...Acometida de paixão inadjetivável vivia momentos de encanto e suavidade, outros de suspense e instabilidade que a deixavam com sintomas anêmicos, diagnosticados pelas benzedeiras como quebranto mal olhado...Ela escrevia sobre seus sentimentos profanos, seus crimes, fantasias caóticas, confusão de sentimentos, ora melancólicos, ora eufóricos, que a deixavam silenciosa... expressão semiótica, simbiótico amor... perfume estonteante...tremor profusão. Sofre prazerosamente a dor e ilusão recheados de música antiga, doce caseiro, cheiro de mato, amor madrugueiro, cereja no gosto do beijo sempre nunca igual. Paixão impossível, confusão mental...Seus escritos, registros dessa louca paixão ficavam todos dormidos em papel, caixa cinzenta laço de fita, secreta, escondida...enigma que se revelado, seria fatal. Numa noite, em que a tempestade de sua vida não conteve o vendaval, o coração ensaia salto mortal, roleta russa em noite de carnaval. Marcara encontro com sua paixão no portal do sonho daquela madrugada. Mas a surpresa foi severa, fez findar a primavera, fez gelar para sempre a escuridão. Morta pela manhã, velada pela tarde, vai repousar definitivo nos jardins da noite... Epitáfio encomendado, padre improvisado.Dia seguinte casa vazia, remexidos guardados, revelada paixão nos escritos secretos descobertos, desatados laços...Em cada som, letra, linha, cor, escândalo, decepção? Não, nenhuma, apenas a nostalgia dos que a amavam demasia e conheciam seus sonhos, fantasias, alegrias...A noite chegou avisando-nos que a história tinha hora pra acabar. A relemos... sensação a transitar entre o trágico e o comico, ironia triste, melancolia que segura o riso sem ter certeza do quão engraçada era a morta que fizemos...ou que pensamos ser nos mesmas. Olhamos o relógio, as horas...Viginia Wolf vinha em nossa direção, olhando-nos sob as abas amassadas do chapeu caque, misteriosa, sem deixar claro para nós sua aprovação...mal nos cumprimentou entrou na cafeteria estava a sua espera Meryl Streep a Francesca Johnson, que se envolveu com um fotógrafo nas imediações da Ponte de Madison. Se olharam dirigindo-se ao encontro de Clint Eastwood que saira da livraria com um roteiro na mão...troxemos todos conosco...
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