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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Óculos

Termômetros em 40 graus! Nem no Brasil temos um calor assim...Meu conforto, a escrita só ela me acalma e me leva pra longe dessa sensação quente úmida que percorre o corpo e brota gotejando pela testa ardendo os olhos derretidos com o filtro solar...Procuro meus óculos pra escrever e reler o escrito... mas ele se enfiou ao meio as barras de cereais no fundo da mochila...vou tateando qual cego que busca na textura do estojo reconhecer o achado...revejo com as pontas dos dedos outros objetos perdidos que me indicam a direção. O encontro e coloco sobre o nariz, agora... uma folha em branco no bloco que se esgota, a caneta acostumada ao meu chamado sempre presa na capa do bloco...tomo um gole de água e ponho-me louca a escrever...as ideias estão todas misturadas com várias frentes e assuntos, reviro todas elas procuro uma que está mais formatada pra ser codificado e então, é quase que um duelo entre a velocidade dos sentidos e a mecânica da escrita...não! Duelo não! É uma ópera no ponto alto quando os adversários se encontram para disputar a mulher amada...Numa jornada ritmada onde nada em volta consegue desviar...termino mais um texto...os óculos a escorregar pelo nariz, calor grudento...retiro-o... preciosidade que só avalia... quem dele depende exclusivamente. Protejo-o novamente no estojo e o liberto do trabalho soltando junto aos cereais...agora, cega de perto, avisto ao longe novo cenário de Budapeste que me espera em cada canto uma poesia com ou sem meus óculos...escrevo mentalmente...os trilhos dos trens dos bondes e metrôs percorrem a cidade e tornam-se meus guias...decoro lugares, fotografo referências para encontrar o caminho de volta... Me perco... finalmente, e sinto-me em casa...

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