terça-feira, 27 de setembro de 2011
Sóror Mariana
Estava entre ela e a outra que queria ser. Sóror Mariana uma ela dos tempos de escola marcada por uma formação de valores morais, crenças e temores de um Deus severo e punitivo, de uma estética pecaminosa e mundana que a fazia estremecer diante do espelho ao provar, as escondidas, o batom vermelho da tia solteirona, esquecido sobre a penteadeira. Sóror Mariana nascida dos ruídos dos corredores do sagrado coração de Jesus, quando ela percorria com as outras meninas endiabradas, as escondidas, a espionar por de traz do claustro, as intimidades religiosas, tomadas de curiosidade sobre se elas usavam calcinha como a delas...sabiam que enfaixavam os seios, o que fariam então com as outras partes pecaminosas do corpo? Guardavam em calcinhas de seda com rendas como as delas? Queriam ter certeza... em algum lugar elas estariam...quem sabe penduradas em um varal atrás da sacristia? Não...deveria ser mais secreto...ninguém jamais poderia vê-las... velas ao vento... as peças íntimas das freiras...nem mesmo quem vivia debaixo daquele teto do sagrado convento escola...morreriam sem ter a curiosidade satisfeita...morte em lentidão...boca seca...reza decorada em noite de penitência...insônia...solidão de criança é pior que de ancião...chama ardente a queimar espetada com os tridentes dos diabos todos enfileirados feitos prendedores no varal, daquele quartel general de madres superioras, inferioras todas na satisfação do desejo carnal. Já sabia que estava perdida mesmo...o inferno a esperava sem juízo final...sentença antecipada...espionara mais do que o ideal pra ser absolvida, confessionário, julgamento, purgatório sem entrada sem guarida... sem perdão...três ave Marias, vinte pai nossos, alguns glórias e outros creio em deus... e saía de lá sem nenhum pai a perdoar-lhe os pecados acumulados, a encher a consciência de Sóror Mariana de medos e arrependimentos que desapareciam ao dobrar o corredor, topar uma nova fantasia, brincadeira, invenção. Naquela tarde e prenúncio da noite Sóror Mariana tentou um espaço nesta que era ela agora, para protagonizar...tão sem jeito...nem convicção...hábito amassado, véu desalinhado, meio que sem propósito...deslocada, terço entre os dedos faltando contas...voz desafinada...desalento, deu meia volta e a deixou agora, Sóror Mariana, acredita ter ficado pra sempre...naquele tempo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário