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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Butô


Clarice relia pela décima vez o texto poema que a inspirara a obra : "Hanami: Cerejeiras em Flor" e o amor declarado em cada gesto como se fossem seu:
... ...
É como se nada nunca tivesse existido além de você e eu.
O dia nos saúda com cheiro de novo no ar
A brisa se move perfumada
Somos nesta manhã casal dançarinos de butô
Nos enroscamos suaves e lentas mãos e vestes
Estamos a beira da lagoa e nos olhamos dentro da alma
As cerejeiras floresceram durante a noite e exalam as cores rosa e branco...
Você me toca leve com as pontas dos dedos, braços alongados esquecidos sobre o ar... Suspensos.
Nossas sombras brincam ritmadas e graciosas.
Sinto suas mãos envolverem minha cintura e subir pelas costas.
Alcanço seus ombros e deito neles a cabeça descendo para o seu peito que duplicou de largura pra me acolher inteira...
A música vem de dentro de nós...
Somos butô nesta manhã que nos deu amanhecer
Nada nos alcança neste lugar que inventamos para estar
Nosso Monte Fuji em dia de neblina, escondido e tímido silencioso, esquecido de ser vulcão ativo...
Apenas o nosso amor em erupção
Tudo se dissolve sem sentidos ou força no ar
Um novo dia novo vem dentro de nós começar
E lá fora... Nada mais importa apenas nossas sombras projetadas rumo ao horizonte
É pra lá que vamos nos levar neste ‘nada mais existir além de nós’
É onde queremos ficar nesse novo dia novo que o Deus nos deu por nos amar.
O chamamos para nossa dança e Ele vem
Deus quer dançar butô conosco nesta manhã
Nosso amor O deixa cheio de esperanças
Bom dia Deus! Bom dia amor que dentro de meu ser me faz acontecer!
Quero permanecer butô no movimento de nossos membros e nas batidas de nosso coração...
Quero girar o mundo nesse ritmo e silencio sem tambores pra não ser alcançada pelas lavas de vulcões predadores...butô regada de pétalas de cerejeiras que me habitam nesta manhã ...

 

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O que eu faço com isso?

O que eu faço com isso?
Comecei o dia assim me perguntando
A noite chegou e ela a pergunta, ainda estava em mim
Colada no pensamento, impedindo qualquer ideia de passar e ocupar meu tempo mental
O que eu faço com isso?
Separei  em dois pedaços a frase pra facilitar sua degustação

O que eu faço? Posso guardar descartar, ignorar, desembrulhar qual presente, compor com palavras, poemas, pintar na tela com cores os traços.

O que eu faço? Faço planos, arte, uma viagem, um trato, uma caminhada, um doce, um laço, um mergulho, faço amor, uma  coisa qualquer.

Com isso? Isso o que?
O  estado mental? A falta de coragem? O insaciado desejo? O plano sem roteiro? A  dor de estômago? O  vicio de escrever? A  tela em branco? O  telefone sem crédito? A  fé descrédita? O amor sem teto? A  saudade estéril? Isso o que? O bloco sem brancos? Os óculos  perdidos? A vontade ausente? O amor ruidoso, latente?

O que eu faço com isso?
Deixo num canto da sala, me sento diante e olho sem pressa, procuro o que vejo.

O que eu faço com isso?
Procuro um lugar sereno, suave, sem pressa e o deixo ficar.

O que eu faço com isso?
Não faço, passo a ser.

O que?
Essa que sou agora que sei o que faço com isso.