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terça-feira, 28 de agosto de 2012

Clarice e Loren


Clarice estava exausta depois de mais um dia de trabalho no novo setor da redação do New York Times... Contrato pontual de três meses  para escrever episódios do universo fantástico, numa das colunas reservadas a cultura literária. Como de costume Clarice fez seus próprios horários o que a  mantinha muitas vezes por mais de 12 horas na redação...hoje era um desses dias.

Ainda agitada com as ideias textuais, atravessando vielas do pensamento,  tomou um banho e vestiu-se com sua roupa confortável de dormir, na esperança de fazer repousar o corpo enquanto a mente se mantinha escrevendo por mais algumas horas.

Seu celular acusa mensagem. É  Loren, seu amigo de inspiração poética  e ficção filosófica. Loren acumula  dentre suas preferências a música brasileira.  A mensagem dizia:

_ Olá Clarice! Vamos ver um show comigo hoje? Trata-se  de uma cantora brasileira de voz e repertório que tenho certeza vai gostar. Aguardo seu retorno. Abraços. Loren.

Clarice resolve ligar para Loren.

_ Olá Loren! Acabo de chegar da redação...estou podre! Tomei um banho mas ainda não relaxei...estou terminando uma ficção pra edição de amanhã...a que horas é o show?

_ Bem mais tarde...dá tempo de descansar...é na Broadway onde tudo começa a meia noite...Vamos?

_ É penso que se conseguir descansar podemos ir . Pode me acordar daqui umas duas horas?

_ Sim claro...descanse, tem tempo. Passarei pra te pegar as 23hs.

_Ótimo... assim dá pra encarar. Ah Loren...pode me trazer aquela calça sua que eu gosto? Aquela saruel  indiana que sua admiradora fez pra você?

_ Sim claro não vou usar estou com aquela sua que me emprestou da ultima vez...a samurai...vou com ela...tudo bem?

_ Pode usar...fica linda em você! Te espero! Até mais tarde! Beijos.

Chegaram a Times Square, Manhattan   em tempo de caminhar pela praça com seus estúdios onde concentra a maior indústria do entretenimento no mundo. Os inúmeros anúncios luminosos de publicidade, a noite, tornam-se uma atração peculiar. Clarice estava animada...refizera-se do cansaço...Loren estava feliz em usava a calça samurai de Clarice e a costumeira exarpe no pescoço exibia seu porte artístico mais que atletico...Clarice vestia uma calça modelo saruel indiano de Loren...Os dois viviam trocando as roupas...tinham gostos parecidos preferências iguais.

Chegaram ao teatro e não demorou ela estava lá...a filha encarnando a mãe. Maria Rita/Elis Regina numa reconciliação em tempo de fazer 30 anos da separação...

Clarice e Loren ficaram na intimidade da companhia um do outro...juntos abraçados...como se a cantora estivesse ali unicamente pra cantar a eles...a noite se despediu com a musica, o show de iluminação e o gestual performático da cantora que reencarnava a mãe em cada agudo...

Clarice e Loren acordaram juntos.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Anjos e epitáfios













Combinamos, Clarice e eu  de sairmos numa tarde dessas, cinzentas promissoras de chuva, para  fotografar os anjos dos túmlos do cemitério tradicional de Paris...e fomos.
Tomamos o metrô  e descemos bem próximo do  Père-Lachaise...Clarice estava mais interessada nos epitáfios e nas fotos antigas dos mortos ali sepultados, eu nas imagens dos anjos debaixo do ceu cinzento. Pelos corredores que espremiam os túmulos, o chão úmido mostrava a ausência do sol...Ele por sua vez,  por mais que se esforçasse não conseguia chegar ali...tão fechado o lugar...Clarice quis ver o  Muro dos Federados,  dirigentes da Comuna de Paris   fuzilados em maio de 1871, ficamos um bom tempo paradas ali...Clarice anotava em seu bloco os dizeres em homenagem aos federados...saimos depois para buscar outras celebridades como, Rousseau, Isadora Ducan, Oscar Wilde, Kardec, Piaf, e tantos outros...Os anjos que capturei com minhas lentes eram todos envelhecidos e escuros...num contraste com o ceu cinza claro dava uma certa melancolia ao olhar demorado. Voltamos pro hotel e terminamos a noite revendo nosso feito...eu com minhas fotos e Clarice com suas anotações...

Regras Construção do Texto


ENSAIO: REGRAS DE CONSTRUÇÃO DO TEXTO (Suê -10/07/2012) Fundamentado em Aspectos de uma polêmica de Jean-Paul Sartre
REALISMO

Pensamento claro e distinto  - Mundo  – direito (como  contrário ao avesso, anverso)
Lógica é direita “lógica Aristotélica” -  baseada no princípio de identidade – que não comporta contradição – ou seja: O que é é - O que não é, não é e nada pode ser e não ser ao mesmo tempo. Indivíduo existe
Tipo – uma estrutura dada  - Homem – instrumento - Existe uma racionalidade confiante ou não.

PERSONAGEM – uma pessoa que existe, tem definidas e comprovadas suas características físicas, ocupa um espaço com endereço e delimitações, mostra-se tal qual se vê.  

 TEMPO – demarcado pela explicação do presente real, do passado acontecido, compreensível e sem sinais de ficção ou conjecturas. É senso comum.
 
ESPAÇO – como o tempo é também delimitado, reconhecido sem esforço do leitor por retratar o universo real e conhecido. Explicita limites claramente perceptíveis. É senso comum.
 

AÇÃO – são próprias da realidade, possíveis de serem realizados e aceitos, quando causadoras de espanto, os detalhes ajudam o leitor a visualizar e entender facilmente. É senso comum.

 FANTÁSTICO

Universo determinado por leis (contextos que determinam o que pode e não pode ser) Sistema fechado - Mundo do avesso – anverso - Lógica do avesso – inversão – ilógico  Proliferação de signos que nada significam - Universo movediço (sem estabilidade alguma) Subversão da racionalidade - Homem está dentro do universo (como fantástico, também ele pode ser, o é)

 PERSONAGEM – seres, elementos, identidades que são parte do universo onde tudo pode ser o que não é pela lógica racional. São despidos de toda e qualquer possibilidade de explicação ou justificativas que não sejam próprias do contexto. São livres de qualquer limitação do possível ou do aceitável pelo senso comum.
 
TEMPO – independente de situar-se entre as regras do presente, passado e futuro. Pode ser qualquer um, todos eles e nenhum deles. Um tempo descrito como inexistente por exemplo. Dispensa explicações para provar sua veracidade histórica, lógica.

 ESPAÇO – como o tempo é também livre de protótipos conhecidos pelo senso comum. Assume características  do contexto e suas especificidades fantásticas.  De identidade coerente com o tempo, personagem e ação o espaço se insere movediço subvertendo qualquer ordem da estabilidade ou equilíbrio.

 AÇÃO – responde ao tudo pode o que permite a invenção. É livremente deslocada do possível, aceitável e do conhecido pelo senso comum. As ações promovem e dão asas ao imaginário numa desacomodação e desequilíbrio que vai do desconforto a busca de organização mental para apropriação da imagem e ou da sua descrição. Promete aventura sem limites ou regras que não, inseridas no universo.

 ABSURDO

Deslocamento de sentidos - Dentro de um mundo em anverso - Total ausência de um fim ou de um objetivo - O homem está fora do universo.

 PERSONAGEM – Não se define como seres, elementos, coisas em qualquer padrão ou modelo pois não tem para ele um universo descrito, explicitado em suas formas e leis.

 TEMPO – causa espanto por não se situar num contexto. Espanto sem direção. Era um dia de sol na noite que se perdeu no celeiro e deixou os soldados sem munição. O baile já ia começar e um maremoto levou a cidade para as nuvens, então se comemorou o aniversário do menino que não nasceu.
 
ESPAÇO – como o tempo, o espaço não tem vinculo algum com o personagem o tempo e a ação. Ele se inscreve independente.
 
AÇÃO – não se corresponde com personagem, tempo ou espaço. Limita a fazer o quer fazer, sem preocupação com ser aceita dentro de qualquer regra ou senso de conduta. Causa espanto sem conexões que permitam compreensão. Não querem ser compreendidas a partir de um modelo.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

bagunça

O tempo vai e vem dia após dia...inaugura fatos sentimentos...recupera lembranças...quer viver...quer ficar no passado com o de melhor vivido...passar o rascunho, a limpo.O tempo chega novo hoje em dia...Clarice espreitava a noite... madrugada se aproxima sorrateira pela janela entreaberta de seu quarto, alma viajante...Clarice olha em volta e dentro dela...uma bagunça se instalara em seus aposentos mais íntimos...Tenta por ordem ao caos que já não define mais  o lugar das coisas, desiste, fecha o arquivo sem terminar o texto que nem começou... deixando em branco a folha. Sente o peso do dia mal acabado, apressado adiado em cada minuto seguinte...desliga tudo, fecha as janelas e leva-se pro quarto segurando-se pelas mãos, a sua a dela mesma...na outra que é ela.

sábado, 4 de agosto de 2012

Tempo de dizer

Surpreendia-me a caixa cheia de mensagens e nenhuma...a que eu esperava...costumava me escrever  todos os dias e hoje...já passava da meia noite e nada...silêncio manifesto em ausência de noticias...Tentei entender aquela mulher religiosa e dedicada a palavra...sabia que era seu dia de ir a Igreja...conversar com Deus...torná-lo ainda mais cheio de significados com sua súplica sobre algo novo para ela ou para um amigo... reparte sua fé com os que ignoram o que é amar e sentir-se amado por Deus. Pensava nela e no que a teria feito silenciar hoje...encontrara será, uma nova motivação que não a de enviar mensagens cheias de esperança e alegria que já faziam parte do meus dias? Lembrei-me que nunca dissera isso a ela...falha minha...sim uma enorme falha...Eu estava agora mais que nunca decidido a lhe dizer  sobre os efeitos de suas mensagens em meus dias...o quanto elas me remetiam a significados para momentos insípidos que me fazem as vezes  desejar retornar ao útero materno...mesmo sabendo que ele já não há...Hoje eu preciso dizer...e o farei em resposta a essa mensagem que espero agora com o coração apertado num nó que estrangula a respiração...feito gravata de seda barata...do vendedor de enlatados...portas cerradas...venda fracassada! Bolsa vazia...dívidas!
Esperei um pouco mais...um banho...um capitulo da leitura...e então o toque  anuncia no celular sua comunicação por fim...Uma sensação estranha me toma,  uma espécie de pavor inexplicável me impedia de ler...busquei um copo  d'água...vaguei pela casa arrastando os cintos do hoby soltos pelo chão...copo entre os dedos...cansaço pendendo sobre os ombros...melancolia...um cheiro adocicado me enjoava o estômago trazido pelas narinas numa náusea que lembrava mêdo misturado com ansiedade...cólicas emaranhavam minhas entranhas contorcendo-me...Respirei fundo e resolvi encarar todos aqueles sintomas e ler a mensagem...acessei seu nome e lá estava:

Resolvi partir pra te fazer sentir  falta...mas já passa da meia noite e você ainda não notou  minha ausência...conclui então que não faz diferença minhas mensagens atravessando suas manhãs, tardes e noites... minhas palavras te saudando com esperança e desejos de felicidade plena para seus dias...minha insistente vontade de te provar o que somos e podemos ter...acabo de saltar do nono andar do local onde enviei flores no dia dos namorados...ocupei todos os espaços de sua mesa de trabalho com rosas vermelhas gigantes como o meu amor...rubras como o sangue que certamente escorre de minha boca quando estiver lendo essa mensagem...se correr na janela verá o movimento aqui embaixo onde meu corpo é recolhido...Eu só queria que sentisse falta de minhas mensagens e me dissesse um dia...mas tantos se passaram e nunca me disse...então resolvi saltar fora dessa nave...desafiei minhas asas...aquelas onde você  se aninha...mas constatei... só funcionam com você sob elas...adeus.

Corri para o banheiro segurando o vômito...não sabia o que fazer...me sentei no computador abrindo arquivos, procurando pistas, portas de entrada...janelas que me permitissem saltar... voltar no tempo...Nada! Já ia desfalecer  quanto um toque insistente em minha porta me tira dali. Desço as pressas como se esperando se completar a tragédia...quem sabe encontraram meu endereço em suas coisas e estão vindo me chamar...abri a porta...

- Oi! Ocupada?

Eu disse: sim, não, isto é, estava escrevendo um  conto novo...venha quero ler pra você...

Era a pessoa que  organizava os arquivos dos diálogos do meu novo livro...Lí para ela o conto trágico...aprovou como sempre fazia...trabalhamos o resto da tarde.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Pimenta rosa

Estávamos Clarice eu numa feira dessas que se vende desde chapeus e luvas até condimentos e artesafos de cozinha...Passarámos por Lyon e agora dormiriamos em Saint Rèmi. Clarice estava encantada com os condimentos...foi logo pedindo ao vendedor, arranhando seu francês espanholado...
- me mostre por favor...me ensine sobre todos!
O vendedor simpático a acolheu com interesse...eu a seguia de perto...me surpreende como essa mulher se encanta com tudo o que vê...fico emocionado...e cada dia mais apaixonado também...estar ao seu lado me acalma os dias.
Acabou comprando a pimenta rosa em grãos...saimos de lá combinando nosso embarque da manhã seguinte...sabia que era difícil pra ela sair cedo da cama...gosta de ficar caraminholando ideias e pensamentos, recordações e invenções que não se cansa de inventar.
Foi uma bela viagem...rápida mas dinâmica...visitamos lugares bucólicos...Clarice escreveu vários projetos literários.
Chegamos hoje pela manhã...ela ainda dorme...estou aqui preparando nossa salada para estrear  a pimenta rosa...já sinto saudades daquela tarde condimentada que se distancia e me perco nas folhas azeitadas e refrescantes...Vou acordar Clarice.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Sobressalto

Clarice acordou no meio da noite com as ultimas imagens do sonho que sonhara...estava
convencida de ter feito tudo que devia fazer...consciência calma...peito sereno...coração
sossegado...caminho por fazer rumo ao  plácido anoitecer...fizera tudo o que devia fazer...explicara a si mesma as condições para sua felicidade...a necessidade de um
calçado confortavel pra pisar solo pedrento... um casaco a próva do vento...maremoto do
coração rebentado e vazando pelos olhos em dias de sobressalto...era necessário...Veio
então a  paz tão procurada...perseguida como escape da melancolia...grito de liberdade
ainda que tardia...Clarice sabia...não era noite, não acordara e nem eram ultimas as
imagens...não era sonho e também não sonhara...vivera de fato tudo aquilo que sabia...era
o que esperava. Dera o primeiro passo...e mesmo tendo se desviado...sabia...tinha como
voltar...Clarice adormeceu no meio da tarde...novidade...no meio da tarde.