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sábado, 4 de agosto de 2012

Tempo de dizer

Surpreendia-me a caixa cheia de mensagens e nenhuma...a que eu esperava...costumava me escrever  todos os dias e hoje...já passava da meia noite e nada...silêncio manifesto em ausência de noticias...Tentei entender aquela mulher religiosa e dedicada a palavra...sabia que era seu dia de ir a Igreja...conversar com Deus...torná-lo ainda mais cheio de significados com sua súplica sobre algo novo para ela ou para um amigo... reparte sua fé com os que ignoram o que é amar e sentir-se amado por Deus. Pensava nela e no que a teria feito silenciar hoje...encontrara será, uma nova motivação que não a de enviar mensagens cheias de esperança e alegria que já faziam parte do meus dias? Lembrei-me que nunca dissera isso a ela...falha minha...sim uma enorme falha...Eu estava agora mais que nunca decidido a lhe dizer  sobre os efeitos de suas mensagens em meus dias...o quanto elas me remetiam a significados para momentos insípidos que me fazem as vezes  desejar retornar ao útero materno...mesmo sabendo que ele já não há...Hoje eu preciso dizer...e o farei em resposta a essa mensagem que espero agora com o coração apertado num nó que estrangula a respiração...feito gravata de seda barata...do vendedor de enlatados...portas cerradas...venda fracassada! Bolsa vazia...dívidas!
Esperei um pouco mais...um banho...um capitulo da leitura...e então o toque  anuncia no celular sua comunicação por fim...Uma sensação estranha me toma,  uma espécie de pavor inexplicável me impedia de ler...busquei um copo  d'água...vaguei pela casa arrastando os cintos do hoby soltos pelo chão...copo entre os dedos...cansaço pendendo sobre os ombros...melancolia...um cheiro adocicado me enjoava o estômago trazido pelas narinas numa náusea que lembrava mêdo misturado com ansiedade...cólicas emaranhavam minhas entranhas contorcendo-me...Respirei fundo e resolvi encarar todos aqueles sintomas e ler a mensagem...acessei seu nome e lá estava:

Resolvi partir pra te fazer sentir  falta...mas já passa da meia noite e você ainda não notou  minha ausência...conclui então que não faz diferença minhas mensagens atravessando suas manhãs, tardes e noites... minhas palavras te saudando com esperança e desejos de felicidade plena para seus dias...minha insistente vontade de te provar o que somos e podemos ter...acabo de saltar do nono andar do local onde enviei flores no dia dos namorados...ocupei todos os espaços de sua mesa de trabalho com rosas vermelhas gigantes como o meu amor...rubras como o sangue que certamente escorre de minha boca quando estiver lendo essa mensagem...se correr na janela verá o movimento aqui embaixo onde meu corpo é recolhido...Eu só queria que sentisse falta de minhas mensagens e me dissesse um dia...mas tantos se passaram e nunca me disse...então resolvi saltar fora dessa nave...desafiei minhas asas...aquelas onde você  se aninha...mas constatei... só funcionam com você sob elas...adeus.

Corri para o banheiro segurando o vômito...não sabia o que fazer...me sentei no computador abrindo arquivos, procurando pistas, portas de entrada...janelas que me permitissem saltar... voltar no tempo...Nada! Já ia desfalecer  quanto um toque insistente em minha porta me tira dali. Desço as pressas como se esperando se completar a tragédia...quem sabe encontraram meu endereço em suas coisas e estão vindo me chamar...abri a porta...

- Oi! Ocupada?

Eu disse: sim, não, isto é, estava escrevendo um  conto novo...venha quero ler pra você...

Era a pessoa que  organizava os arquivos dos diálogos do meu novo livro...Lí para ela o conto trágico...aprovou como sempre fazia...trabalhamos o resto da tarde.

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