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sábado, 17 de julho de 2010

MENINA

Herdeira de nossa esperança
No mundo dos homens
Protagonista das inovações de seu tempo
Precursora das ações que ficaram por realizar
Portadora de nossa convicção
De que só pelo criativo e livre pensar
Nos defrontamos com questões essenciais
E promovemos a emancipação

A menina chegou...

Cheia de encantos

De beleza e generosidade infantil

Veio trazendo na bagagem novidades

Dentre elas o instrumental para o século XXI
E seu projeto existencial para o presente curso
Escolheu seus protagonistas
Pai, Mãe
e o Irmão
que lhe abrira o caminho

para chegar mais rápido.

A menina chegou...

Esperada e amada chegou

Para ser menina

Para ser musa inspiradora

Para ser semente,
árvore,
flor,
semente...
A menina chegou e se alojou:
Em nossos corações 
Em  nossas esperanças.
Eu, ela e eu
Nos encontramos nela - Em mim
Num elo de gerações de busca
Do belo, da essência, do amor...

A menina esperada chegou...

E nos fez de novo
A todos nós
Menina...

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A CASA VAZIA DE MEUS PAIS


Vivo a experiência da partida e sinto-me ainda suspensa no ar.
Hoje visitei a casa vazia de meus pais. Era preciso desocupar tudo para venda.
Me senti os escafandristas da música do Chico, revirando os resquícios de uma estranha civilização. Sim pois a vida de meus pais foi uma civilização à parte da minha. Tiveram identidade própria e autonomia cultural. Do saravá aos boleros, fizeram das suas, as vidas que escolheram, caminhos que traçaram. Amigos amantes, traições consentidas, passeios, brigas e paixões.
Um par de alianças de prata escurecida, com frizo de ouro rolou de uma caixinha caindo aos meus pés.
O registro das bodas de prata, as de ouro vieram depois, sem alianças ou qualquer outro marco burguês.
Cartas, lembrancinhas de fatos que desconheço, toalhas de crochê, taças dispariadas, tampas sem panela e vice-versa, vasos de cristal falsificado de uma época em que não haviam camelôs e nem os genéricos chineses. Será que vaso de cristal falso de 30 anos atrás vale mais que um vaso desses hoje?
Como se quantifica o valor das coisas?
Ferrugem, trinca, manchas, valem pelo tempo muito mais que pelo estado em que se encontra?
Trinta pares de meia na embalagem sem abrir. Meu querido Pai penso eu, não suportava mais ganhar meias de presente. Sua vingança era não tirar do pacote.
Duas carteiras na embalagem. Preferia a dele, velhinha macia e experiente.
Três caixas do boticário sem abrir.
Cinco perfumes finos fechados.
Seu armário de roupas era um almoxarifado de camisas de marca (Yves Saint Laurent, Aramis, e outras) que o filho deve ter comprado e não gostou. Sobras. Criou um cemitério dessas peças extravagantes e sem nenhuma identidade com ele. Alojou-as em seu armário por delicadeza. Que merda! Que vida! Que morte! Que "rediculo" como diz meu neto primogênito. E eu digo: Como viver e não reproduzir essa merda?
SuêGalli

quarta-feira, 14 de julho de 2010

O espaço na lápide

 
Passagens
Viagens
Bagagens
Embarques
Percursos
Pernoites
Paragens
Chegadas
Partidas
Registros da vida
Quero um espaço com pauta em minha lápide
Não preciso de lugar para o efêmero corpo e seus adornos
Nem de flores condenadas 
Mas não abro mão de um bom espaço em minha lápide
Não faço questão de benzimentos e missas
De palavrórios que ecoam e se perdem na despedida
Mas eu preciso  de boas letras  em minha lápide
Quero que ela seja banhada nas noites pela lua
E que fale num texto eloquente
Do amor que tive pela vida
De minha viagem que não termina
Como bom viajante que traz na bagagem
Mapa, bússola  e um plano de resgate
Da existência em processo e evoluida
... ... ... ... ...
De malas prontas, outra vez

Novos projetos na bagagem
Outros amigos e amor talvez
De malas prontas, outra vez
Levo comigo os troféus
Frutos de aprendizagem
De outros percursos meus
De malas prontas, outra vez
Pronto para embarcar
Novos sonhos realizar
E dificuldades superar
Os defeitos já resolvidos
São conquistas a considerar
A todo viajante evoluído

Casa Puebla - Punta Del Este

Quando tudo parecia perdido...
Foi preciso ir para bem longe
Para encontrar-me com o aqui mesmo
Nos jardins da Casa Puebla
Encontrei-me nos escombros de mim mesma
No sótão do coração
No almoxarifado das relíquias sagradas
Dos valores estabelecidos
Da verdade acreditada
SOLILÓQUIO
Perder as origens eis uma ameaça que sempre me abalou. Origem cultural, genética, fenotípica.
Acreditava que isso só acontecesse se  sofresse um terrível acidente que me deformasse o corpo e a mente.
 Mas não.
Descobri que a tristeza profunda consegue fazer isso.
Transformar-me em uma outra.
Perceber que isso pode ser bom  embora tenha todas os sinais de ser ruim...

A tristeza bateu forte
Minha vida ela abalou
Foi um vento lá do norte
Que o meu sul desabou
Desarrumei toda casa
Movi quadros da parede
Tirei o pó dos guardados
Deixei janelas voar
Reuni os meus desusos
Que um dia utilizei
Enchi pacotes de mim
De alguém que não sou mais
                            Abri espaços na estante
De coisas e vaidades
Hoje o lugar que ocupam
                           Não tem mais razão de ser
                                Parei pra repousar
Nas notas de uma canção
E veio então pra mim
Novo arranjo e a explicação
Que a tristeza do começo
Era só a indicação
De que o amor é o cimento
Pra minha recontrução

quarta-feira, 7 de julho de 2010