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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Sísifo e o amor de Clarice

Clarice escolhera a maldição de Sísifo pra retratar seu jeito de amar.  Precisava de todas as forças pra mover a enorme esfera de pedra montanha acima e fixá-la no topo de onde poderia então descansar seus dias e saborear a brisa suave e pura a pairar sobre os altos.
Missão de todos os dias.
Esforço continuo e permanente.
Razão da existência.
A cada passo rumo ao topo, o vislumbre do amanhã, na realização dos sonhos, o debruçar-se na janela do tempo olhando de dentro da própria alma, o aconchegar-se entre as malhas dos inventos que adornam seu templo!
No entanto, ao ver prestes a atingir o cume, o cansaço é aumentado pelo íngreme do solo inóspito das pedras outras tantas do caminho.
Endireita o corpo tombado, ajusta as garras presas fincando o pé, força toda, braços, pernas, e... Num deslize incontrolável, toda a jornada é perdida, rola montanha abaixo a enorme esfera enterrando-se na lama tornando ainda mais difícil o recomeço da subida.
Hora de curar as feridas causadas pelas ultimas tentativas, de encontrar o aconchego que amorna o coração e deixar molhar a face ressequida, bonsai agonizante.
Beber na fonte da esperança, aprender os ritos da fé e recomeçar a jornada feita de empurrar para cima o desejo de  realizar em cada tentativa seu jeito de amar.
Até rolar novamente.
E voltar todos os dias a luta para consolidar forças e mover o amor fazendo-o refletir nas estrelas.
Ocupar o firmamento.
Transgredir a galáxia dos astrônomos e cientistas, poetas loucos!
Amor que exige o esforço de rolar montanha acima, a pedra que teima rolar abaixo, testando sua coragem de amar desmedido, cada motivo de viver o sonho, e com poesia, cada minuto da vida.
Clarice olhava a pauta diante de sua mesa, seus primeiros escritos sobre Sísifo, sentiu correr um choro silencioso pela face espalhando a tinta, borrando sua alma com a estranha sensação de ver Sísifo sentado sobre a esfera de pedra no topo da montanha apontando para ela o firmamento. Levantou-se, vestiu a roupa mais colorida que havia em seu armário e saiu pela tarde, vento soprando suave, pensamentos voando no tempo...

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