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domingo, 1 de abril de 2012

inescrupulosidade

Gosto de metáforas elas me permitem a ficção e a poesia.

Costumava me perder sozinha. Gostava mesmo de fazer isso com os pensamentos, visitava lugares desconhecidos sem levar endereço algum, nem telefones para contato caso precisasse. Era uma forma de garantir que se me perdesse nada me atrapalharia a experiência. Desta vez, porém, me perdi acompanhada. Alguém que não se permitia perder nunca, mas que não sabia que  estar ao meu lado já significava estar de certa forma perdida...
Pobre amiga... Foi uma grande perdição de fato... dessas que não tem informação que nos traga de volta ao caminho iniciado...Estávamos muito bem  perdidas...sensação misturada de riso sarcástico  pela raiva do erro cometido, desvio inaceitável  da atenção, distração culposa, retorno inalcançável,  distante...relógio apressado, trânsito lento, desvios errados, barulho do pensamento que teima buscar a calma e a compreensão do momento:  Algo de pior pode ter sido afastado com nosso erro... Minha mãe dizia que quando isso acontece... frases de efeito vinham pra nos enganar a consciência do prejuízo que o atraso certamente nos traria.
Triplicamos o tempo de nossa viagem e com isso vivemos mais tempo na estrada que nos mostrava como era estar perdidos assim juntas, partilhando a ansiedade, a culpa, o desconhecido, a inescrupulosidade, a certeza de que tínhamos que ser generosas conosco na busca de uma saída que nos mostrasse lugares reconhecíveis de outras jornadas...nos desse a familiaridade, a sensação de não estar mais assim tão perdidas...
Várias foram as paradas pra pedir informações...várias foram as informações vazias de compreensão e acertos, tamanha era nossa perdição...várias vezes acreditávamos estar no caminho...vários caminhos nos mostraram  que não eram eles  o que buscávamos...várias vezes nos olhamos em silêncio...vários silêncios nos fizeram rever nossa distração...
Nos esperavam as pessoas pra nossa orientação...nos desorientávamos a cada quilômetro da rodovia que não era a que devia...parecia não ter fim nosso estado de perdidas assim... vez por outra indagávamos: será que os que nos esperam, continuam a nos esperar?
Também eles estavam perdidos sem nenhuma bússola ou mapa pra os guiar... ficavam parados, sem sair do lugar com a esperança de serem achados por aquelas que perdidas, nem a si mesmas encontravam...
Um velho sábio resolveu ser nosso guia, mas invertemos as posições ele veio atras de nós e se perdeu também...continuamos sozinhas, refazíamos rotas e nos mantínhamos perdidas...
Ficamos e estamos até hoje procurando nosso caminho, as vezes avaliamos se já não encontráramos...e então ela me pergunta: Reconhece alguma coisa?
E eu, como costumava me perder sozinha, estava agora feliz a experimentar sua companhia... Eu respondia a ela:  Não, não estou reconhecendo nada!
Ela então, responsável pela nossa condução, resignada a buscar a calma me dizia... Vamos encontrar... Logo...
Eu só não dizia a ela que eu não tinha pressa... nem mesmo pelos que me esperavam...pois não era certeza que eles existiam...assim como não era também verdadeiro afirmar que estávamos perdidas naquela rodovia ou em outro lugar que não dentro de nós mesmas...

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