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quinta-feira, 23 de junho de 2011

Outra eu...mesma


foto Suê - outra eu - 2011
Desde muito criança...alimentei a absoluta certeza de que ao mesmo tempo histórico porém num lugar outro...que não poderia imaginar onde...existia uma outra eu...vivendo exatamente as mesmas coisas... mesmo tempo...usava as mesmas roupas que eu...tinha as mesmas perseguições fantasmagóricas que constroem o medo na infância...O tempo foi passando e nós duas crescemos juntas... separadas... confidentes...Dos castigos infantis e mazelas da infância e adolescência partilhávamos...Meu único irmão não entendia essa história e eu tinha pena dele por que era tão sozinho no mundo...não tinha um outro ele...Minha outra eu só era lembrada nos momentos difíceis...na tristeza... não pensava nela e na sua alegria...acho que era por que ela também não pensava em mim...Me tornei jovem, adulta e ela se distanciou de mim...comecei a perceber que não podia contar com ela...como gostaria...tinha que tomar decisões e acreditava que ela também mas o que eu queria mesmo era saber o que ela havia decidido para me ajudar na minha decisão...não conseguia isso...a interlocução passou a ser com o primeiro namorado com quem falava dela sempre...pra ver se ela também fazia o mesmo...não queria que me esquecesse...bem mais tarde tentei encontrá-la na minha pintura estar com ela...a outra eu...depois na literatura...poesia...na vida acadêmica...publicações...ela foi sorrateiramente desaparecendo....minha vida se ocupava a cada dia de tantas outras coisas reais...Tentei trazê-la novamente ainda mais uma vez...e no dia que mais precisei dela pra salvarmos nosso herói do holocausto...não veio ao meu encontro...fiquei só...chorei só...cantei sozinha no seu sepultamento nossa canção preferida...me fortaleci só...Não me importei mais com ela...nem ela comigo certamente...não sei pra onde foi...mas em mim seu lugar foi definitivamente tomado...por mim mesma... a que sou.

Um comentário:

  1. ...a ela que nela ficou
    A taramela da porta girou
    Na janela se debruçou
    E se pôs a chamar por ela
    Que dela se afastou...
    A 'que sou' respondeu ao chamado
    E ficou.A taramela voltou...a janela fechou...
    Ai! Quem sou?!

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