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segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Insight

De tanto esconder-se por traz do personagem sumiu de vez...Essa era a idéia que a ameaçava desde sempre no papel que representava há mais de décadas na peça em cartaz nos teatros de seu pais e do exterior. Protagonista da história que começava quando era criança, no seio de uma família comum e de outras meninas da casa. No limiar da juventude a identidade se define em seus ideais, ficções, paixões platônicas, rebelião literária, manifesta na vida acadêmica desde tenra juventude... gostos estéticos marginais que migram entre anjos e sepulturas, ao sabor do pessimismo e suas vontades. Passou então a viver a personagem. Num dia de ensaio eis um insight! As luzes do palco fizeram outro percurso... para dentro dela e a mostrou em cada canto de seus aposentos. Ela se viu então no papel composto da personagem com todos os elementos que definiram sua caricatura de atriz: voz, gestos, olhares, linguagem, movimentos, vestiu-se então da roupagem com peças pertencentes a diversidade de tantos outros protagonistas. Nos adereços juntou tudo o que pudesse representar o gosto de todos os modelos do padrão aceitável... fingia padronizada...formatada...modelo a ser seguido seguramente...Era a personificação de um multiculturalismo que se aperfeiçoava a cada respiração e fala do script. Era perfeita! Adorável! Invejável!Até ela mesma imaginava outra dela pra se apaixonar...Com o tempo ...e inúmeras representações... percebe que dela mesma já bem pouco se via...Estava de tal forma caracterizada no modelo e papel aceitável...que não reconhecia os traços definidores do seu próprio ser...Foi quando então, na maturidade dos sentimentos, e das experiências vividas na arquitetura da própria identidade, na causa abraçada, dos valores concebidos, que admitiu pra si mesma a falta de um palco só seu, um script de autoria, um prefácio musical, um ponto alto de amor e vingança dela mesma pela longa demora no papel que lhe fora atribuído. Buscou insana criar esse espaço encontrado na casa simples sonhada, na porta que se abre de surpresa com a chegada, no sorriso acolhedor, no abraço de corpo e alma, no encontro consigo mesma na outra que a habita, nas horas de descanso dela mesma...envolta na música do riso...da cabeça a deitar no ombro amigo, do afago do olhar derretido... do imaginário existente na poesia, revelado nesse breve valioso insight...que nela se fazia.

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