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sábado, 13 de agosto de 2011

Malabares

Ele estava no mesmo semáforo do balão de sempre... magro alto,desbotadas as coloridas vestes...demonstrando, ao fechar o sinal, sua arte ganha-pão, ganha- descaso, ganha- palavrão, ganha o perigo da rua, ganha um sim, um não, ganha o meu sorriso...Eu havia acabado de sair, nem tinha ainda colocado o cinto de segurança...Sinal vermelho...fechado pra passar... aberto pra assistir o espetáculo malabares, sem nem mesmo ter reservado lugar na platéia...com todo o conforto do meu acento, ali sob o sol da avenida......dois carros a minha frente e ele lá...corpo exposto...aos olhares...aos mais cruéis olhares...pensamentos intolerantes radicais...apressados...janelas que se fecham numa velocidade maior que a de seus delicados movimentos equilibristas...estilhaços de pensamentos atingem minha alegria de criança no circo diante do espetáculo...minha certeza da alienação da qual lutei pra escapar...me tira o prazer dessa singela alegria... e me faz sentir responsável por ele, lá fora assim exposto com aquele enganoso sorriso no rosto...Tento dissipar nossas diferenças....inventar uma outra relação pra ele eu...amenizar minha culpa...ele do lado de fora...todos os riscos...eu do lado de dentro seguro e alento, ele artista de rua sobrevivente...eu vazia daquilo que o move e sente...Ele empenhado em ser feliz... aparentemente contente...O riso e a alegria faz parte de seu número...um riso que tira de não sei onde...mas que tem lá dentro da mala guardada pra compor o seu show...e me tirar o sono...Tempo esgotando voraz...lança um único olhar e avista todos os carros e suas janelas...vê meu braço estendido...implorando seu perdão...Chega até minha janela...me sinto mendiga e maltrapilha por dentro...o vejo grandioso diante de mim...Me diz palavras gentis delicadas cheios de muito obrigados e me diz num sussurro que me abraçou pelo ouvido percorrendo meu miserável ser...Olha o cinto!Precisa viver pra voltar e me ver...

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