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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Salvar-se

Não existe solidão nem desamor quando memória e imaginação são intactas, ilesas. A sensação de solitude inóspita do deserto em que se encontram os prisioneiros de si mesmos, desaparece com a capacidade de imaginação, nutrida de memória e seu conteúdo. Para escapar do deserto em solidão, fugir, voar como águia sobre montanhas, é preciso buscar na mémória tudo que conhece sobre a águia, seu vôo, as montanhas e a relação dela com a montanha e o vôo. É preciso ser autor do próprio deserto e da solidão seus significados e razão pra escapar dele, seus labirintos e janelas. Para fugir da insônia perturbadora no meio da interminável noite, num veleiro, sob a noite estrelada do céu que cobre o mediterrâneo em suas águas negras...é preciso conhecer e saber como é navegar num veleiro, velas içadas, ao vento e ao sabor das ondas em rompantes movimentos, é preciso conhecer a noite cujo manto estrelado cobre as negras águas do mar que para ser o mediterrâneo, há que se conhecer do mar, sua geografia e os encantos da região que contornam suas águas que enchem as ondas, que para serem rompantes, há que se ter a ideia do que é ser rompante...há que se ter experimentado romper-se assim...rasgando, partindo, quebrando pedaços espalhados atirados rompante! A imaginação precisa de conteúdos, conhecimentos potenciais de aplicação e uso versátil...precisa de memória, banco de dados coletados das experiências de aprendizagens, leituras, vivências, pensamentos nutridos de laboratórios que os testam e aperfeiçoam, tornando um saber a mais...que trabalhados com inventividade nos transportam para outros lugares e situações, para outros nós mesmos num outro lugar em outra situação e com outras pessoas, talvez até as mesmas mas outras mesmas. Uma dada informação conteúdo, experiência ou memória pode constar de diversas imaginações como peça flexível maleável pelo arquiteto do pensamento. Quanto mais conhecimento dispomos e quanto mais aprofundados em suas particularidades e possibilidades de interpretações e usos forem eles fugindo a superficialidade,  mais real se torna o produto de nosso imaginário...nos dando até confundir, agradavelmente confundir, sonho e realidade...ao decepcionados constatarmos: merda era só sonho! Em fim, pra citar Cervantes há que conhecer Quixote, Rocinante, Dulcineia, Sancho e o tratado da loucura e da poesia que inspira a fuga do deserto, o vôo da borboleta, o canto da cigarra...o veleiro viável...os moinhos de vento...o lugar de deitar a paixão...determinada a salvar-se. 

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