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sábado, 3 de setembro de 2011

Nefertiti

Entre os escombros do antigo Egito ameaçada de virar gesso nas obras de novas construções, de beleza indizível, meiguice no olhar enigmático e sedutor, a escultural Nefertiti é salva pelo olhar sensível  do arqueólogo alemão apaixonado pela história da arte e perpetuação da cultura. Arrebanhada pelos historiadores que recuperam sua história e artistas  restauradores, a jovem mulher é revestida e proclamada deusa da beleza. Encontrei-a num aposento de vidro isolado dos demais compartimentos num dos museus de Berlim. Na entrada uma placa pedindo silêncio em respeito a deusa que repousa de sua jornada sobrevivente de escombros, sem um dos olhos e partes de sua pele danificada, detalhe que não maculam sua grandiosa  beleza. Aproximei-me dela, nos olhamos... percebi que querida conversar... cheguei mais perto e fixei em seu olhar, fez-me um sinal pedindo que eu começasse a falar queria acostumar-se com o quebrar daquele silêncio imposto sem ter sido consultada...Perguntei-lhe se era feliz e então contou-me toda sua história, que dela, nem a metade se contava nos registros. Logo imaginei... disse a ela compadecida... é típico...de novo essa palavra que inaugura tantos momentos de minha conversação...outros lugares e pessoas...típico dos que reproduzem a história de acordo com interesses e ideologias...Ela quis saber sobre mim e então, cuidadosa para não cansá-la, falei apenas que vivia bem longe dali, que gostava de inventar as coisas nas quais acredito e amo e que nem sempre se fazem existir...Ficou muito interessada, movimentou-se delicadamente inclinando-se em minha direção...olhei em volta para me certificar de que os seguranças não nos viam ou que ninguém, armado de uma camisa de força entrasse para me resgatar...tive pena dela e de mim por ter que falar  assim tão as escondidas...sempre as escondidas... vê-la naquele pedestal de pedra frio muralha intransponível redoma de cristal, endeusada,  silenciada, condenada a uma adoração transeunte...volátil...curiosa e sem compaixão. Mostrou-se desejosa de vir comigo, falou quase sussurando: me leva consigo...me inventa outra, livre dessa que estou desde sempre... eu não pude negar-lhe, por isso a trouxe aqui nesta rápida escrita. Ficará entre outras que lhe farão companhia sempre que sentir-se só...será visitada e tocada olhar e beleza pelos leitores criarte que buscam... e se buscam leitura, sem pretensão nenhuma...

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