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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O relógio

Ele viera da viagem de navio pelo Atlântico que ela fizera pra enxugar as lágrimas com a brisa do mar. O encontrou próximo ao cassino e boates numa vitrine entre outras jóias, perfumes e acessórios... coisas de free shop. Ele era diferente e único... arrojado e assexuado um pouco como ela...um pouco, digamos sem fronteiras. As pulseiras largas e negras, incrustadas nelas extremidades do visor retangular das horas, números grandes bailarinos sob o vidro, placas em metal platino nobre, fecho que se abre e dobra sobre outro elemento para fechar, abraçando firme o pulso que precisa ser, para conduzir aquela mulher...Paixão em dólar, namoro em reais que se estende pelo mar todos os dias daquela navegação molhada, sem sal. O relógio na vitrine passou a ser um lugar para mudar de lado, distrair a maresia, visitar após o jantar, antes de dormir... ao acordar... Caso sério cada dia mais...Fim da viagem...terra firme pulso forte e decisão de levá-lo para não ficar dividida sem ele, melhor a dívida e com ele...Mas acha que combina com você, alguém lhe pergunta ainda...sim ele é todo eu...vai me traduzir pra quem não conseguir se aproximar pra me conhecer! O relógio passou a ser parte dela do esportivo ao social, da meditação ao brincar; do trabalho austero ao riso de percurso fácil... Certo dia, numa de suas passagens entre o rigor do trabalho e a leveza do caráter artista cruzou caminho de um olhar que fixou no relógio... ponto de referência, paixão sem hora e lugar pra chegar...Foi capturada pelo pulso... e o relógio? Foi janela por onde o ladrão saltou roubando-lhe muitas horas de sua vida. Aproximação, ousadia, revelação: me apaixonei pelo seu relógio...quer vender? Não está a venda, responde. Faço qualquer negócio, quero ele, gostei... Quero! Dizia do lado de fora aquela voz molenga e determinada. Estremecidos o relógio e ela perceberam a delicada atmosfera que transitava entre medo e fantasia (será que aquilo existia...). Então pra quebrar aquele circuito elétrico oferece... Deixo experimentar um pouco... Em silêncio tira pela primeira vez até então, o relógio, segura o pulso estranho e o coloca... Fica apertado veja... não serve...não vai dar certo...Imediatamente a voz do lado de fora: eu ajusto! Sei como fazer! Sei muitas coisas sobre relógios quer ver? É só me deixar...Ela volta rapidamente o relógio pro próprio pulso que assustado já não sabia mais o lugar das horas...Foi um tempo de grandes atrasos e desacertos aquele tempo...Hoje ele marca sereno as horas mas, vez por outra é sobressaltado daquela atroz perseguição que se materializa...agora, mais docemente: gostei do relógio...o que eu posso fazer? Gostei...gostei...

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